sexta-feira, 9 de março de 2012

Lost in Translation

Por que não somos educados na mesma língua? Esta época de globalização não ata nem desata, parece que ficou pela metade, tipo assim união européia.

Ela acha que fala inglês, estudou em curso particular, foi pro nível avançado, fez business english e com toda segurança foi explorar o país americano. No aeroporto a divergência da língua não é problema, ou melhor os “problemas” são previsíveis no capítulo 1 de todo curso básico de inglês. Já no taxi, aparece uma encrenquinha por causas dos sotaques, a rua 55 com fith avenue é um jogo de salivas de um lado e do outro.

Imersa no dia a dia nem o business english, podem salvá-la. No supermercado, é uma desgraça, nas primeiras vezes levou um tempo enorme para entender a função de cada produto de limpeza e quando descobria nascia um entusiasmo que já morria ali mesmo, com um sorriso que abre e fecha, ao perceber que dentro daquela categoria ainda existiam uns 5 tipos diferentes: tem o multi surface e o super multi surface vinegar, tem ainda o wood surface citrus, mas se é multi-surface porque que tem que ter um só para Wood? Porque nada nos EUA é branco e preto, nada é só leite, ou só café. Se quer um café precisa saber qual: colombiano; brasileiro; forte; expresso; americano; duplo; single; com leite; com creme ou com chantilly, Ah! Tem que decidir o tamanho, pequeno, médio e grande, tudo numa velocidade de Fórmula 1.

Ela queria fazer um bolo de cenoura. Foi comprar ovos. Ela só queria comprar ovos. Qual ovo? Além do branco e marrom, tem o com ómega 3; o large; o extra-large... O básico, simples, direto da galinha, não tem. A receita diz, em português que a farinha, é a de trigo, dessa vez, ela se fez de esperta e consultou o dicionário antes, farinha de trigo em inglês: whole flour, comprou, viu que tinha uma cor escura, mas... Uma vez pronto, do bolo só deu para aproveitar o cheiro , porque o gosto era de fibrax com alpiste.

E como explicar para a manicure: não cortar, só lixa-la – L-I-X-A-R, entende? Mímicas e frustrações se somam.

Ela passou meia hora explicando para ele porque a planta que compraram juntos é menina e não menino. Ele passou dando risada da conversa dela com o garçon: - Mr. Do you have mattress? - What? O moço de americano socorreu – She wants matches, I guess. Ela falou que desejava estudar a história americana e ele descobriu que ela comprou um livro sobre a história dos gays americanos: “Modern American Queer History”. O Push sempre vai ser Puxe, não tem jeito, nem dando portada na cara.

Os piores jantares são com os amigos dele, especificamente os Brits (ingleses); todos empolgados falando rápido, com muitas gírias e sotaques, ela baba e bebe.

Agora decidiu se inscrever em outro curso de inglês. E todo mundo contesta: Seu inglês já deve estar afinadíssimo. Não mesmo.

Um comentário:

  1. Seu inglês É afiadíssimo, FFs! Mas... como não se trata da língua mami, acho que sempre podemos avançar um pouco mais.
    Fora que, uma coisa é conviver com estrangeiros que, como nós, falam inglês e, outra coisa, bem diferente, é conviver com os nativos, suas piadinhas internas, brincadeirinhas entre amigos e sotaques diversos. Por mais que os amigos de fora falem inglês impecável e fluente, não dá para comparar com a dinâmica de quem fala isso desde criança pequena. O Chris, por exemplo, que está com um português bom, perde-se totalmente todas as vezes que me vê conversando com a sua prima, por exemplo, e eu, que vou progredindo no meu francês, descubro que ainda não falo nada de coisa nenhuma todas as vezes que estamos com os amigos franceses dele.
    O que acho é que, independentemente da fluência, se formos "articuladas", como o somos!, chegareoms lá!

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