quinta-feira, 29 de março de 2012

O que é Arte?

Resolvi reconhecer que fui criada para ser médica, engenheira ou advogada, com as opções ressaltadas de ser “esposa”, “dona de casa” ou “dona de boutique”, essas eram as escolhas, que eu me lembre. Como sempre adorei ver as mulheres de terninho, pasta na mão e falando com propriedade, não duvidei ao seguir a carreira de advogada.

Apos estágios, empregos, sociedades, pós graduação e mestrado fora, eu aproveitei o fora no sentido “overseas” and “abroad”, para explorar outras opções que eu nem sabia que tinha. Ta aí, me encantei com o “abroad”. Talvez porque seja ainda mais desafiante, ou porque queria fugir da realidade anterior, ou porque gosto de aprender outras línguas e culturas, ou porque sou novidadeira mesmo, ainda não sei.

No “abroad” o contato com a arte é imposto, não é algo distante nem “nerd”, está em toda a esquina, disponível a todas as classes econômicas e sociais, não passa desapercebido. Meu circulo de amizades se expandiu, saiu da rodinha mercado financeiro, advogados e só. Encontrei de um tudo, e me embasbaquei com tantas outras profissões existentes.

Eu, sinceramente nunca tive muito contato com a tal da arte, ou por falta de interesse ou por falta de apresentação a ela, além de que, não fazia parte da minha lista: foi criada para... Em NY, encontra-se cursos para dar, receber e vender, entrei na onda e aproveitei para fazer curso de fotografia, já que sou aquela chata que sempre leva máquina no restaurante, aniversário, na balada, no bar, sendo turista ou não.

Estava amando o tal curso, com informações produtivas sobre abertura da lente, velocidade, ISO e luz. Quando chegamos ao projeto final a criatividade tinha que aflorar, matutei, matutei e percebi que sou tão limitada e entediante quanto a lei. Nada de criatividade, parece que a parte direita do cérebro nunca foi muito explorada. Quando olhei o projeto de outra colega pensei a mesma coisa: puxa que falta de criatividade, que fotos esquisitas, mas quando mostradas no telão, para minha surpresa a classe e a professora soltaram um uníssono: OOOOOOOHHH! Isso é tão artístico!!! Minha cabeça deu nó. Um choque com a tal da arte. Mas quem pode contestá-la? A Arte é para ser apreciada, ou te traz um prazer ao vê-la ou desprazer. Li num livro sobre a história da arte que sua fundamental importância é a comunicação intelectual que mesma nos traz. Claro que este Parágrafo me aborreceu, eu fui a única que não viu arte ou comunicação visual num pires de chá amarelo encima de uma mesa branca. Agora será que todos vêem? Ou será que existe um medo de contestar a arte. Eu achei uma falta de imaginação, uma ausência de cores e formas, mas não tive coragem de contestar, como deveria e quem sabe assim me fizessem, talvez, enxergar a tal da Arte no pires.


quinta-feira, 22 de março de 2012

Era uma vez uma cidade com lindas calcadas de pedras portuguesas

E ja que estamos falando de saltos... As calcadas de pedras portuguesas do Rio de Janeiro sao lindas, um verdadeiro patrimonio historico, e eu certamente seria a primeira a protestar se quisessem subtituir as pedrinhas pretas e brancas por um concreto sem a menor graca. Mas quem ja andou de saltos nas belas calcadas, sabe que e' um verdadeiro teste para o Cirque de Soleil - se voce conseguir nao torcer o pe, esta aprovado! Ontem mesmo, ao chegar do trabalho, fui acometida por um otimismo irracional, resolvi nem subir para mudar o "traje" dos pezinhos para as minhas amadas havaianas (que alem de nao ter cheiro e nao soltar as tiras, nunca me decepcionam! E se voce nao se lembra desses anuncios das havaianas, provavelmente e' jovem demais para lidar com temas tao profundos quanto os discutidos nesse blog). Me mandei direto para o supermercado. Ora, eu so precisava comprar umas frutinhas e o supermercado fica a 3 quadras da minhas casa. Doce ilusao... Os pezinhos foram e voltaram sofrendo, assim como eu que tentava, em vao, manter a pose e o andar de quem esta no catwalk. Tolinha... Mas no fundo, o que mais tem me incomodado nas pedrinhas portuguesas ultimamente e' o fato de que elas destroem a aparencia de qualquer salto. Bastam 5 minutos para que elas facam com que seu salto pareca que foi martelado por todos os lados. O porem e' que recentemente comprei um par de sapatos que me faria sentir tao poderosa quanto a propria Angelina, nao fosse o fato de que nao consigo usa-lo. Sim, pois a maison da pessoa que vos escreve fica tao proxima ao burburinho, que seria ridiculo pegar um carro para encontrar as amigas naquele bar ou restaurante que tanto combina com os sapatos poderosos e assim preserva-los do massacre. Passa dia, entra dia, eu calco os sapatinhos e logo me vem a cabeca a imagem daqueles saltos maravilhosos todos marcados pelas pedrinhas bicolores. E eu, troco os sapatinhos por uns sem metade da bossa e me vou, andando cabisbaixa pela calcadas destruidoras. Depois de muito pensar no assunto, cheguei a conclusao de que o que falta e' um principe, que venha buscar os sapatos e leva-los para brilhar em publico. E ja que nao sou Cinderela para ficar esperando que o principe venha ate a mim, vou a luta atras do principe que ira salvar os sapatinhos da masmorra. Torcam por mim!

quarta-feira, 21 de março de 2012

O que você precisa saber sobre NY vol I


Você precisa saber que a temperatura muda de repente. Você precisa saber que a arquitetura é magnífica. Você precisa saber que encontrará qualquer coisa que procurar, porém, você precisa saber que não é para visitar o “ponto zero” entre 8:00 am ou 10:00 am, pois correrá risco de atropelamento por “pés”.

Sim, NY é uma das cidades mais populosas do mundo. - Também não pode parar para atender o telefone no meio da Av. Lexington entre a 42th e 44th street, pois correrá o mesmo risco. Se sair da Grand Central nos horários de pico, somente ande para onde a multidão esteja andando, não importa, você pára para averiguar o mapa e a direção assim que avistar uma porta de qualquer lojinha, não páre nem para ver que tipo de loja, entre! Pode ser de brinquedos, café, perfumes, bebidas, revistas, já disse que não importa, salve-se e veja onde está.

Há uns meses fui a uma entrevista em downtown as 8:00 am da manhã, imaginem aquela delícia de metrô! Mas, para o metrô eu estava preparada, não estava preparada era para a enxurrada de gente saindo debaixo da terra, eu de um lado, e mais outros 5 a 10 corredores de saída do trem subterrâneo para a superfície. Você anda. O meu sapato era novo, como todo o visual para a promissora entrevista, só que o sapatinho resolveu dar um show de “atacação”, era de frente, de lado, atrás e eu andando, eu sentia as bolhas nascerem e estourarem, tudo isso sem saber muito se eu estava na direção certa, mas Manhattan neste horário só tem uma mão, a mão downtown. A vontade de parar para arrumar o “dito cujo” era imensa, mas ao espiar de rabo de olho aquela gente, gente mesmo, multidão atrás de mim, quase cheirando o meu cangote, um pânico me vinha e eu andava. Eu tentava enxergar uma árvore, um poste, uma coluna, uma parede para encostar, e era só parede de gente. Andei algumas boas milhas até conseguir cruzar da esquerda para a direita e entrar num café. E nessas horas eu quero socar as placas de push, porque eu sempre puxo! Claro que eu puxando a porta do café e todas as pessoas que saíram dos 5 a 10 escadas do metrô se afunilando nas ruas e andando freneticamente eu fui empurrada e atropelada umas 20 vezes, quase perdi minha bolsa, mas não caí.

Neste ponto não conseguia andar mais um quarteirão inteiro com aquele sapato, meu pé estava em carne viva, e eram os dois então não dava nem para mancar. Fui para a entrevista, porque nessas horas o corpo solta um “Q” de adrenalina que não te deixa tirar do foco maior – A entrevista – Fui arrastando os pés como se fossem patins. Não deu, parei na primeira loja de sapatos que avistei e achei um único par disponível do meu tamanho: uma sapatilha dourada com gliter dourado!!! Torci o nariz, baixei a cabeça e falei com vergonha: Eu vou levar.

Além da barra da calça ficar arrastando no chão, a sapatilha chamava mais atenção que EU, a entrevistada, não adiantava nem dar cambalhotas, a “brilhosa” me ofuscava.

Voltei para casa descalça, sem emprego, na contra-mão, mas fora do horário de pico.

Agora, você deve saber que em cada quarteirão da ilha você achará 2 Starbucks, as vezes do mesmo lado da rua, as vezes no lado contrário e para cada um Starbuck você achará 4 Dry Cleanears, 3 Nail Salon e 2 casas de massagens. Por fim entendi porque existem tantos serviços de massagem de pé! Foi lá que afoguei minha mágoa do dia, relaxei e deixei uma tip enorme para a massagista que sorria sem parar: uma sapatilha dourada de gliter

sábado, 17 de março de 2012

Também os Shortinhos

Estava terminando meu treino no transport da academia do clube, quando li um e-mail da Cris informando a mim e a DG que tinha um post sobre nossos shortinhos.

Confesso que até hoje tenho uma coleção deles! Jeans escuro, jeans claro, jeans branco, mais curtinho (mas não como os dos tempos relatados pela Cris), mais longuinhos e soltinhos... Enfim, sou MESMO fã deles. Minha cota de jeans economizada nas calças (acho que cabem nos dedos das mãos todas as que eu já comprei nesta vida) eu uso em shorts jeans.

Ansiosa que sou, sentei num banquinho do clube, ao lado de um casal da melhor idade para ler o post dos shortinhos jeans. Estava curiosa para saber qual era o approach dado pela amiga Cris às nossas inesquecíveis histórias de shortinhos.

Devo estar na TPM, porque meus olhos que já tinham marejado ao final do episódio da série que eu estava assistindo durante o transport (por sorte, eu estava num cantinho da academia, e acho que as lágrimas passaram despercebidas), se encheram de lagriminhas novamente. Lágrimas de saudades das amigas que eu já não vejo tanto e nostalgia pelos momentos felizes, leves e descompromissados que já vivi tão intensamente na companhia de tantas amigas queridas.

E, hoje, vou de shortinhos de novo para a festa de logo mais. Não seriam os jeans, mas depois deste post, talvez repense o outfit...

Os shortinhos da Juju (e os meus também!)

Eis que eu me deparo com este post (http://juliapetit.com.br/moda/fenomenos-da-moda-o-microshorts-jeans/) escrito pela Jana Rosa (a moça é repórter daquele programa apresentado pela Carol Ribeiro na MTV e sempre teve blogs engraçadíssimos, como o finado “Casa da Narcisa” http://casadanarcisa.wordpress.com/, e o “Agora que sou Rica” - não consigo mais achar o endereço, enfim...), que muito me fez lembrar a minha “codinomeada” amiga Juju e todos os shortinhos que já passaram pela nossa trajetória.
Somos adeptas da “peça”, a Juju muito mais do que eu, diga-se de passagem, e em tamanho sempre centímetros a menos do que os meus e os de qualquer outra amiga (fato este que precisa ser constantemente registrado porque é simplesmente impossível deixar de irritar a Juju comentando o tamanho - minúsculo! - dos seus shorts), muito embora ela possa encurtar tudo - como encurta! - porque, além de pequenina, tem as pernas em dia, requisito máster número um para portar o dito.

Mas, voltando ao post, o que gostei foi o fato de a menina de nome pitoresco ter desvendado e matado a charada do shortinho jeans. Ele realmente não é sinônimo de elegância e criatividade fashion, especialmente por integrar os 10 itens clássicos e eternos do guarda-roupa da piriguete (sobre os outros nove ainda preciso pensar...), mas, atire a primeira pedra quem nunca “pirigou” - com classe.. - nesta vida!
O que falta em elegância e inovação sobra em charme e sex appeal, ou seja, o que mais você precisa para “pirigar” - finamente... - na balada!? Nada! O shortinho jeans resume todas as suas necessidades e garante o sucesso da empreitada.
O único que tenho (já houve outro, mas o bichinho não resistiu a uma década de carnavais seguidos e faleceu faz tempo...) está comigo há quatro anos e dele nunca irei me desfazer. Esse é de estimação! Ele surgiu na minha vida emprestado e depois dado - tamanha a nossa sintonia e ajuste - em uma longa viagem que fiz com a Isa, irmãzinha que já virou um mulherão. Era verão, fazia um calor do cão e eu descobri que, numa das piores malas que já fiz nessa vida, não tinha trazido um único short. A Isa - que também fez uma das piores malas da vida, mas por excesso: tudo o que você imaginasse existia, no mínimo, em número de quatro naquela mala... - salvou a pátria, emprestando - e depois deixando comigo, já que eu seguiria viagem e ela voltaria... - o que veio a ser um companheiro de muitas aventuras. Ele é de um jeans médio e tem as barrinhas viradas e costuradas para fora. É curto - não como os da Juju, claro... (!!!) - e por ser soltinho e nada justo, é muito confortável, deixando de lado o gênero do “pirigo”.
Com ele, já fui da praia à “phesta phyna”; já usei com camisa branca e chapéu panamá, fazendo o tipo elegante&tropical; com peruca azul e camiseta da mulher maravilha, no estilo a louca mais feliz da noite; com camisa xadrez, cinto pesado e rasteirinha, no melhor do meu bohemian chic; com pouca modéstia e muito sucesso, de um tudo e de todos os jeitos, e também com muitas boas memórias, já que foi com ele que eu conheci o meu marido!
É ou não é um acessório “pegador”!? Juju, querida, use e abuse, sempre, e quanto mais curto, melhor!

quarta-feira, 14 de março de 2012

Repetição

Cheiro de café aspirado diretamente do pacote. Quentura de água a ferver. Cheiro novamente sentido, coado e espalhado pela casa. Espreguiçar de cachorro. Cheiro de homem bonito vestindo-se para trabalhar. Cor de sol iluminando montanha. Quentura de aquecedor nos pés. Acordar acordando-me. Vagarosas sensações de amanhecer. Na cabeça, “Cotidiano” do Buarque. E o fazer todo dia tudo igual em dias diferentes. Sentar e escrever. Repito-me em novidades todas as manhãs, imergindo-me na diferença tênue de cada dia.

domingo, 11 de março de 2012

Primavera

Hoje quis ser um urso, poder entrar na toca e hibernar ate o inverno passar. Mas como urso nao sou, respiro fundo, renovo as esperancas e continuo a esperar. Vai embora vento frio, que vem sem avisar, entra sem ser convidado e gela a minha alma. Vem logo primavera, com suas belas flores e infinitas cores. Quero de volta o calor do sol para me esquentar. O urso quer sair da toca para brincar e minha alma quer voltar a cantar.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Lost in Translation

Por que não somos educados na mesma língua? Esta época de globalização não ata nem desata, parece que ficou pela metade, tipo assim união européia.

Ela acha que fala inglês, estudou em curso particular, foi pro nível avançado, fez business english e com toda segurança foi explorar o país americano. No aeroporto a divergência da língua não é problema, ou melhor os “problemas” são previsíveis no capítulo 1 de todo curso básico de inglês. Já no taxi, aparece uma encrenquinha por causas dos sotaques, a rua 55 com fith avenue é um jogo de salivas de um lado e do outro.

Imersa no dia a dia nem o business english, podem salvá-la. No supermercado, é uma desgraça, nas primeiras vezes levou um tempo enorme para entender a função de cada produto de limpeza e quando descobria nascia um entusiasmo que já morria ali mesmo, com um sorriso que abre e fecha, ao perceber que dentro daquela categoria ainda existiam uns 5 tipos diferentes: tem o multi surface e o super multi surface vinegar, tem ainda o wood surface citrus, mas se é multi-surface porque que tem que ter um só para Wood? Porque nada nos EUA é branco e preto, nada é só leite, ou só café. Se quer um café precisa saber qual: colombiano; brasileiro; forte; expresso; americano; duplo; single; com leite; com creme ou com chantilly, Ah! Tem que decidir o tamanho, pequeno, médio e grande, tudo numa velocidade de Fórmula 1.

Ela queria fazer um bolo de cenoura. Foi comprar ovos. Ela só queria comprar ovos. Qual ovo? Além do branco e marrom, tem o com ómega 3; o large; o extra-large... O básico, simples, direto da galinha, não tem. A receita diz, em português que a farinha, é a de trigo, dessa vez, ela se fez de esperta e consultou o dicionário antes, farinha de trigo em inglês: whole flour, comprou, viu que tinha uma cor escura, mas... Uma vez pronto, do bolo só deu para aproveitar o cheiro , porque o gosto era de fibrax com alpiste.

E como explicar para a manicure: não cortar, só lixa-la – L-I-X-A-R, entende? Mímicas e frustrações se somam.

Ela passou meia hora explicando para ele porque a planta que compraram juntos é menina e não menino. Ele passou dando risada da conversa dela com o garçon: - Mr. Do you have mattress? - What? O moço de americano socorreu – She wants matches, I guess. Ela falou que desejava estudar a história americana e ele descobriu que ela comprou um livro sobre a história dos gays americanos: “Modern American Queer History”. O Push sempre vai ser Puxe, não tem jeito, nem dando portada na cara.

Os piores jantares são com os amigos dele, especificamente os Brits (ingleses); todos empolgados falando rápido, com muitas gírias e sotaques, ela baba e bebe.

Agora decidiu se inscrever em outro curso de inglês. E todo mundo contesta: Seu inglês já deve estar afinadíssimo. Não mesmo.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Michel Grin Antiques Art-Déco






Como o espírito dos Années Folles ainda reina no intrínseco, resolvi seguir seus passos e descobrir onde Lausanne cheira à déco.

Primeira descoberta: Michel Grin Antiques Art-Déco

Este divertido e charmoso antiquário situa-se no número 21 da Rue de Geneve, em um dos antigos armazéns do Flon, bairro revitalizado e “muderno” da cidade (logo mais, farei post contando mais sobre a Ville), e atua em três frentes: antiquário especializado em mobiliário do séc. XX, com nítido favoritismo por referências déco, embora, vez ou outra, namore com um pop; espaço um pouco brechó, um pouco antiquário, onde você encontra uma quantidade admirável daquelas malas armários do séc. XIX (http://www.la-malle-au-tresor.ch/ - para pegar o seu Orient Express rumo a Veneza, já que o trenzinho passava por Lausanne!); e, café, onde você senta e se aconchega, enquanto belisca a sua tortinha de amêndoas e beberica o seu cafezinho.

Entre as suas peças, encontramos réplicas e originais do estilo art-déco que podem ser identificadas (identificação feita por uma abelhuda que pouco sabe, mas... que tudo vê!) pela limpeza das linhas e formas, combinadas a madeiras nobres, lacas e marfins; ornadas por motivos naturais, geométricos, orientais e pelo então exótico que hoje virou étnico.

Sejam elas funcionais ou meramente decorativas, o que me atrai nelas é a aura moderna e ao mesmo tempo antiguinha que todas elas carregam, como se desejassem ser de agora, mas pertencessem mesmo ao lá atrás.

Para abelhudos como eu que queiram saber mais sobre esse estilo (cujo nome foi calcado na denominação da própria exposição onde pela primeira vez foi apresentado, no caso, a Exposição de Artes Decorativas e Industriais Modernas de Paris, de 1925), achei essas fontes “internéticas” interessantes e confiáveis:

Victoria&Albert Museum - resumo de uma mostra déco:

Ruhlmann - site em referência às criações de Jacques-Emile Rulmann, citado como um dos maiores criadores de mobiliário francês:
Claudia Porto - um pouquinho de história da arte:
Quem souber de algo mais, por favor, conte-me que também quero saber!

E aguardem as próximas descobertas ainda em ritmo de jazz e charleston!




terça-feira, 6 de março de 2012

O Poema da Seca

Ontem, um livro me manteve acordada até a silenciosa madrugada. É um daqueles livro que a gente não lê, engole. Ele me presenteou com um país, que apesar de ser o meu, eu não conhecia.

Eu tive o prazer de trabalhar com o autor, o advogado mais educado que já conheci, com fala mansa, tanto no inglês, quanto no português perfeito, diga-se de passagem. Seu aprendizado da língua portuguesa deu-se por pura paixão a cultura brasileira. Provido dessa paixão, da curiosidade de advogado e da vivacidade dos seus vinte anos, ele viveu e conviveu um tempo no nosso nordeste, morando em comunidades no sertão e descobrindo olhos, medos, bocas e terras inexistentes para muitos, inclusive para mim.

Abertura do livro dá-se assim:

“I went to the government, and got half-backed lies

I went to the newspaper archives, but the government censored them

I asked tha bankers, but they tried to sell me some debt

The American Embassy explained that people do not know what is best

The CIA officer barely spoke Portuguese

The priest said that the people are afraid to resist

The rich man said the people are ignorant

So I asked the people

And they handed me poetry”

Nicholas Arons

Suas experiências são hilárias, bizarras, sarcásticas e únicas. Algumas eu soube pela narração da própria pessoa, um privilégio. Mas a leitura é imperadora, tudo lindamente narrado e brilhantemente escrito. “ Waiting for the rain”, esse é o livro que me levou a conhecer um Brasil que não me apresentaram nem através das novelas.

O autor viveu em comunidades no sertão brasileiro, com o intuito de ajudá-las e de entender o fenômeno da seca, das chuvas e de todo antagonismo da brasilidade nagô. Conheceu o sertanejo, a cachaça, a festa junina e a indústria da seca. Distribuiu panfletos sobre a AIDS, e só após vê-los no chão, descobriu que não era descaso da população, mas analfabetismo. Deu aula, mas não teve audiência. Observou que ao repentista o povo ouvia, e foi assim, contratando o “repente” que fez a população ouvir o que tinha a falar. Sobreviveu a um sequestro relâmpago e a outras experiências que me levam a ter vergonha. A vergonha se vai quando me encanto com o que me é apresentado, e é meu!

Confesso que pouco parei, em minha vida, para pensar sobre o assunto. As notícias são as mesmas, sai ano entra ano, secas e chuvas, gados mortos, enchentes de cobrir os casebres, uma região judiada, pobre, fadada ao desastre. Já é certo e por ser certo não é novidade, então pouco alarde se faz. E assim eu ignoro, mesmo sabendo que dezembro será pior. Mas tudo que é repetido cansa. Talvez eu tenha me cansado, porque tenho a opção de me cansar. Talvez tenha me desligado daquele mundo, porque não é meu mundo, mas não o é por uma sorte divina, devo lembrar. E mesmo assim quem lá vive apresenta um charme e alegria que formam um poema, tudo belamente observado pelo autor.

Não me cabe fazer um resumo do livro mas sim aguçar a curiosidade para que se esbaldem com a viagem ao sertão brasileiro, diferente dos nossos ilustres escritores, nesta obra tem-se a narração de alguém de fora, alguém que apesar de ter nascido em outra América, encontrou-se deslumbrado com a poesia nacional, a poesia sobre o único desastre natural que carregamos, a seca.

Sul Americana



Lá fui eu renovar o meu visto americano na embaixada dos EUA, em Bern. Antes das 8:30, já estava devidamente plantada em uma fila com duas pessoas na minha frente, após ter feito uma micro viagem de trem de um pouco mais de uma hora, portando apenas uma carteira e os documentos exigidos para a requisição do visto. É que eles pedem, antecipando o tratamento vip que lhe será dispensado, para que você não traga absolutamente nada: bolsa, mochila, computador, celular, dispositivo usb, nada!, porque eles não têm armário para guardar coisa nenhuma e, caso você apareça com qualquer um desses itens, você não entra na embaixada e ponto final.
Como fui sozinha e de trem, não tinha com quem nem onde deixar bolsa e celular, então separei o que precisaria apresentar e incluí, como extra, na minha carteira grandinha, um batom e um micro estojo de blush, daqueles mínimos, só para ter um espelhinho, porque, dá licença, mas sul americana também é gente e criatura - vaidosa - de Deus.
Nos primeiros minutos de espera, com todo mundo postado no frio da fila formada do lado de fora da embaixada, o primeiro de todos nós, com cara de indiano, resolveu andar um pouquinho mais para frente, mas só um pouquinho, naquele caminhar de poucos passos, feito por quem espera em pé. Ele não ultrapassou nenhuma linha, nenhuma marca e nem chegou, sequer, perto da porta da embaixada, mas foi o suficiente para arrancar de dentro do prédio um oficial imenso, loiro, com cara de maníaco, que - mais parecia ter acabado de sair de uma trincheira em Bagdá e caído diretamente na calma e civilizada Bern - apontando para o rosto do moço, gritava e ordenava para que ele voltasse ao seu lugar. Com a “meda” instaurada em todos nós, o rapaz voltou “de ré” e ninguém mais se mexeu, até o loiro aparecer novamente, dessa vez berrando ainda mais alto, por ter aparecido um casal - de indianos -, cuja moça portava uma mochila. Ao invés de usar termos como “por favor” ou formas verbais que exprimem respeito ou gentileza, o cidadão soldado foi bastante agressivo e, com uma expressão de ira, perguntou o que eles pensavam que faziam com aquela mochila na fila. O marido explicou que ela apenas o acompanhava, mas que não entraria na embaixada. Nada feito. Ela não só não poderia ficar com a mochila na fila do lado de fora, como teria que esperar do outro lado da rua. Ouquei
Chegou a minha vez de entrar. Depositei os meus pertences na esteirinha do raio-x - pertences: casaco, cachecol, carteira com documentos, batom e blush - e, mesmo tendo passado incólume e sem apitar pelo detector de metais, o grandão, na sua tocante gentileza e educação, incumbiu-se, numa espécie de segunda checagem, de detectar outros possíveis metais na minha pessoa - com a ajuda daquele aparelhinho manual usado nos aeroportos - , que, claro, apitou ao se deparar com o botão do meu jeans. Não sendo óbvio para o meu investigador que se tratava de um botão, foi necessário mostrar qual era a natureza do metal, ou seja, você levanta o seu suéter até a altura da sua cintura, para que um desconhecido olhe e entenda que ali só tem um botão. Nada demais, mas... já que a minha pessoa assinala com um “x” a opção “f” do sexo, ainda acho que esse tipo de revista - porque o que eles fazem é, de fato, uma revista, por menos que ele não tenha encostado um dedo em mim (mas isso seria o inimaginável do absurdo, não!?) - deveria ter sido feita pela “oficiala” presente na sala, e não por aquele gigante intimidador.
Muito bem. Terminada a fase do metal e passados os pertences pelo raio-x, um outro oficial, dessa vez negro e infinitamente mais bem educado do que o primeiro, encarregou-se de checar, novamente, os mesmos pertences já “radioxzados”, e de fazer algumas perguntas fundamentais à segurança do estabelecimento, tais como: “você trouxe alguma espécie de celular, câmera, dispotivo USB ou arma de fogo!?”, não, moço, hoje eu não trouxe nem de fogo, nem química, nem nuclear. Feitas outras perguntas do gênero, ele iniciou a checagem manual das minhas coisinhas, esmiuçando a minha carteira, os meus documentos, até encontrar o blush e o batom. Ele os tirou com cuidado da carteira e perguntou: “o que é isso!?”, resposta: maquiagem?; “você poderia abri-los?”; claro; “você poderia fechá-los”; pois não; “posso abri-los?”; e ele abriu o meu batom até o final, daquele jeito que, se for mais um pouquinho, quebra, e aí, já era batom!, e analisou, com cuidado, o meu pó bronzeador, encarando-os como se fossem armas de destruição em massa, até convencer-se do contrário e me deixar seguir para a próxima etapa, onde, ouvidos alguns outros gritos por ter sentado quando deveria ter permanecido em pé - ops!, desculpa aí, moço! - tudo, finalmente, correu civilizada e educadamente, como deveria ter sido desde o início. Ou não!?
Foi um suplício. E deixou aquele gostinho de que nós sul americanos, juntamente com os nossos hermanos indianos, chineses, africanos, ainda somos encarados e tratados como cidadãos de segunda classe, para os quais se instaura um verdadeiro estado de exceção e vire-se você, independentemente da sua origem, condição social e financeira, educação, caráter, história ou qualquer outra coisa que o individualize, para provar que não é terrorista ou que não tem pretensões de imigrar ilegalmente.
É desgastante. E tira um pouquinho do prazer de visitar um país tão bonito, formado -e respeitado - enquanto Estado -, por ideias e imigrantes, iluministas, idealistas, humanistas, livres, iluminados!
Eu entendo as circunstâncias que os levaram a isso e com eles sempre me solidarizei, mas, será que eles entendem as minhas? Será mesmo que é preciso tanta descortesia? O que fica claro é que eles têm meios e formas de se proteger, de se resguardar. E quem me protege e me resguarda do fato de ser proveniente de uma parte do mundo para onde ainda olham enviesado? Porque esse é o meu único “crime”, a minha única “falta”, e assim sou fichada, categorizada, estereotipada.

Para destruir em massa ou manter a minha tez tropical bronzê!?

quinta-feira, 1 de março de 2012

Au revoir, froid de canard!


Passado o froid de canard, que de pato não tem nada e só pode mesmo ser traduzido como frio do cão!, março começou com carinha e jeitinho de primavera, ensolarando manhãs, alongando dias e espantando o restinho de frio que ainda andava por aí.
Já vai tarde, Sr. Inverno, até o ano que vem! Vai embora e abre espaço para dias verdadeiramente bonitos e totalmente aproveitáveis. Porque dias bonitos são irresistíveis e, por eles, deixa-se qualquer coisa de lado. Como hoje. Deixei e fui correr em volta do lago. O mesmo que me recebeu em setembro.
Estava tudo lá, voltando ao seu lugar, esquentando e soprando vida: jardineiros plantando flores, crianças brincando, cachorros passeando, velhinhos sentados em seus banquinhos tomando um muitão de sol; casais - de todas as idades! - de mãozinhas dadas, parando vez ou outra para beijinhos; e os que correm, caminham, pedalam, patinam; os que tomam sorvete, “turismam”; além dos patos e cisnes e corvos passarinhando em todos os estilos e plumagens. Bem-vinda vidinha em volta do lago! Segue o seu rumo de primavera, cumpre o seu destino de verão.