quarta-feira, 18 de abril de 2012

psico criatividade

A psicologia ensina, a neurosciencia pesquisa, mas raiva só sentindo mesmo. O dicionário define: “ 1 Doença infecciosa, especialmente dos cães, podendo transmitir-se por mordedura a outros animais e ao homem; hidrofobia. 2 Prurido que as crianças sentem nas gengivas no período da dentição. 3 Violento acesso de ira, com fúria e desespero. 4 Ânsia veemente; desejo irresistível. 5 Grande apetite. 6 Paixão ardente. 7 Aversão, ódio. 8 pop Biscoito feito de farinha, ovos, manteiga e açúcar.”

A minha, certamente não é doença, não peguei de cão, tão pouco se enquadra na categoria de biscoito. É um violento acesso de ira mesmo. A raiva surge quando você deseja algo e se vê impedido de obtê-lo, ela também aparece quando você se sente ofendido, ou machucado. Eu, na verdade, pouco me preocupo em definir a raiva, quando estou enraivecida só quero saber mesmo de expulsá-la do meu corpo, não porque sou uma pessoa nobre, mas sim porque me encontro em estado de vapor incômodo, pressionado ensaiando explodir. Eu atropelo pego e rasgo. São pipocas estourando e querendo sair. Respirar fundo, respirar pelo diafragma, imaginar cachoeira e bla bla bla, é receita de revista que só adiciona pimentana na "dita cuja". A respiração é curta e intensa, os olhos ficam exaltados, pulando da cavidade a que pertencem, a boca treme, o corpo não se sossega, e pouco se sossega a mente. A vontade é de socar a parede, quebrar objetos, jogar copos no chão, eu invejo o elenco das novelas que o fazem a tordo e a direita. Da uma vontade. Ensaio um quebra-quebra, mas sei que sou eu mesma que vou ter que catar cada um dos pedacinhos de vidro ou cerâmica na sala forrada de carpete beije, o que só vai me trazer mais fúria. O racional se impõe e com ele a dita ira.

A origem da minha raiva eu sabia, é uma dor persistente na bunda que me atormenta desde uma queda na banheira, longa estória. (fica pra próxima).

Há um tempo encontrei 500 prós de morar com um homem, trocar lâmpadas, pregar quadros, levar o lixo para fora, entre outras muita melhores, naquele dia enraivecido descobri o 500 + 1: os “brinquedos de meninos”, achei ainda na caixa uma espingarda de brinquedo que ele ganhou do irmão. Ah! Foi como inserir brigadeiro numa dieta. Meus olhos brilharam, esbocei um sorriso raivoso, salivei e fui mal intencionada em direção a arma de plástico. Coloquei prazerosamente as bolinhas de borracha na mesma, com certa cautela e ânsia. Agora tinha que pensar no target, o moço pensou por mim e me trouxe fotos e imagens engraçadas de bundas impressas da internet, bundas com óculos, com caras e bocas, com chapéu. Uma por uma preguei na porta do quarto com um prazer inestimável e assim foi. Com o alvo na distância correta, deitei no chão como uma lagartixa e esfregando o barrigão no chão e indo da esquerda pra direita e vice e versa a fim de ir para frente ou para trás como uma minhoca, mirava, apontava eu atirava e atirava e a raiva saia na forma de risadas espontâneas e deliciosas.

Tendências...

 
Preciso desabafar a minha repugnância fashion pela tal da “tendência”, ou ao menos por certas “tendências” e o modo pelo qual elas são vendidas e divulgadas por aí.
Não é o caso de discorrer profundamente sobre o que vem a ser “tendência”, quem cria “tendência” e por qual motivo seguimos a tal da “tendência”, mas “tendência”, em moda, deveria ser encarada unicamente como “um toque”, “uma idéia”, “uma dica”, “um perfume”, “uma atualização” e não como uma obrigação atrás da qual as loucas de plantão correm pelo receio de serem classificadas na coluna das “fora de moda” (aliás, existe ainda essa estória de “fora de moda”?), e qualquer loja de high street fashion da esquina (zaras, H&MS...) vende de baciada.
Numa época em que imperam todos os estilos e principalmente o seu, ainda existe ditar “tendência”? Acho cafona, datado e, irritantemente, massificado.
O melhor exemplo são os dois milhões e meio de blogs de street style ou de “moda”, que divulgam dia sim e dia também, fotos de moçoilas pelo mundo a fora, celebridades ou mortais, vestindo “tendências”, as mais estapafúrdias possíveis, combinadas de um jeito que ninguém consciente de si e do espaço que ocupa nesse mundo, jamais, gostaria de combinar em toda a vida, e vendendo a imagem de uma contemporaneidade feia, comum e sem pé nem cabeça.
Existe sim, muita coisa boa, muita mistureba bonita, que enche os olhos, diverte e ainda deixa a cidadã tilintando de lindeza. Afinal, moda serve mesmo é para isso. Mas, no meio de todo esse furdunço, é difícil separar o joio do trigo...
A saia longa e plissada
A saia longa e plissada passou do verão ao inverno e do inverno ao verão, dependendo do seu hemisfério, e segue sendo usada de um jeito muito esquisito em ambos os lados do planeta.
Dizem que ela confere “feminilidade” ao “look” (acho tão irritante essa estória de “look”...) e que é uma peça muito “versátil”, podendo ser usada por todo mundo, das mais variadas maneiras. Discordo de tudo.
É claro que qualquer coisa pode ser usada por qualquer uma (!!!), mas não dá para negar que, apesar do “longo” inserido ao nome, a tal da saia "longa" só alonga mesmo as que já nasceram alongadas, cortando a silhueta de quem não é tão alta assim e, necessariamente, achatando-a. Ou seja, se você não se incomoda de aparentar um pouco menor do que é, vá em frente! Mas essa é a verdade.
Fora que o tal do “plissê” da saia é uma das melhores maneiras de alargar o tal do quadril que, comumente, costuma ser  volumoso e que ninguém faz lá tanta questão de ressaltar.
Ou seja, pode ser “feminina” por ser saia, mas não confere nem graça, nem delicadeza, nem mimo a quase ninguém que a usa.
Fora que a acho triste. Uma coisa meio 1910, meio primeiras operárias femininas das fábricas, sofridas e cansadas. Saia plissada, no geral e do jeito que vem sendo usada, ou deixa a pessoa com cara de pobre coitada (especialmente quando combinadas com botinhas sem salto, cardigans e cintinhos) ou com pinta de pomba-gira desorientada (nas versões mais coloridas, tropicalientes e de saltão).



Mary Poppins tinha mais estilo e um guarda-chuva voador!
A calça azul bic
Essa me irrita muitíssimo. Qual a chance de, em 2 anos (não vai muito longe), você olhar para as suas fotos vestindo uma azul bic e se perguntar, “Dio mio, como pude, como fui capaz!?”. É arrependimento certo! E o melhor é que usam como se não fosse nada, como se o bic do azul não gritasse ao mundo que ele não combina com mais nada além de papel em branco. Na versão skinny,  com botinhas e acessórios pretos, eu diria que é altamente abominável.



De capinha vermelha a gente também voa!
O navy
O navy de repente virou tendência sem nunca ter saído “de moda”. O estilo é clássico, lindo, impecável e não enfeia ninguém, ao contrário. Foi criado por Chanel no começo do século passado (e como tudo o que ela criou, para dar um basta na estética dos anos 1910 e, em conseqüência, nas saias longas e plissadas...) e hoje é vendido de baciada, em qualquer quitanda. Nada contra a propagação e popularização de estilos, afinal, quanto mais informação de moda as pessoas tiverem, mais o mundo ficará bonito! O problema é a banalização: todo o mundo usa, todo o mundo tem uma camiseta branca de listras azul-marinho e, sempre que possível, a camiseta é usada com uma calça azul bic, ou com uma saia longa laranja (agora, a minha cor favorita desde sempre e para sempre, que sempre usei com parcimônia, amor e moderação, caiu na boa do povo), sempre com um detalhinho de onça para dar o “diferencial” da igualdade: quero dizer, essas pessoas não percebem que, não, elas não estão sendo criativas e que, sim, todas elas estão se vestindo absolutamente iguais!? Mademoiselle deve revirar-se no túmulo.





"Oh mon dieu!"









terça-feira, 17 de abril de 2012

De barriga cheia

“Quitutear” nunca foi o meu forte, mas aprendi a compensar a falta de aptidão com receitinhas simples, feitas para matar a fome e facilitar a vida. Durante os dez anos em que morei comigo mesma, vez ou outra, acontecia de, numa noite qualquer, a pessoa chegar tarde em casa e não ter nada pronto para comer, estando cansada, com frio ou preguiça para sentar, uma vez mais, o bumbum na cadeira de um restaurante, ou pedir a mesmice de sempre, dos que se prestam a fazer delivery.
Foi numa noite dessas que, morta e esfomeada, dirigi-me ao supermercado 24hs plantado estrategicamente na esquina da minha casa, disfarçando o meu pijama com um casaco e decidida a comprar todos os ingredientes necessários para realizar a obra prima do meu desejo: uma pasta à bolonhesa!
Fui positiva e decidida, requisitos necessários para o sucesso de qualquer empreitada em seu início, concluindo que não deveria ser tão difícil assim misturar carne moída, sal, pimenta, cebola, alho e molho de tomate, enquanto a pasta cozinhava no seu universo paralelo. Era só uma questão de boa vontade para com as panelas e o fogão e, naquela noite, eu estava repleta dela!
Para a minha felicidade, acertei em cheio quanto à simplicidade do empreendimento e assim nasceu a minha primeira suposta “pasta à bolonhesa” (só depois eu fui entender que o tal molho à bolonhesa se faz com ragú, outro nível de quitute, e que o meu, apesar de toda a pretensão, não passava de um simples molhinho de carne) que só não ficou melhor porque, na época, eu ainda tinha um certo receio (para não dizer nojo) de encostar os meus dedinhos em um mísero dentinho de alho.
Como tudo nessa vida, o molho foi se aperfeiçoando com os muitos fazeres e hoje ele é um sucesso de público e crítica que AGORA compartilho com as caras leitoras:
Ingredientes (preciso avisar que não sou muito boa com quantidades, mas essa receita alimenta duas bocas, ao menos, duas bocas magrinhas):
300g de carne moída
Uns dois mugs da pasta da sua preferência, tipo penne ou fusilli
½ cebola
1 dente de alho
1 colher de sopa de azeite de oliva
Sal e pimenta do reino a gosto
1 lata de molho de tomate sem casca ou in natura
Cogumelos são bem-vindos
Preparo (estou me sentindo a própria “Cozinhando com a Ofélia”!; quando criança, amava esse programa: os potinhos de porcelana branca com os ingredientes separados, o barulho que a colher de pau fazia na porcelana quando ela derramava os ingredientes na panela... achava tudo lindo e apetitoso!):
Molho
Aqueça o azeite de oliva em uma frigideira (de tefal) e com ele refogue a cebola e o alho (picados!), mantendo o fogo de baixo para médio.
Espere que eles fiquem amarelinhos (não vai torrar os pobres!) e junte a carne moída.
Tempere com o sal e a pimenta e deixe-a fritando com os amigos até que ela perca totalmente o rosado. Para quem quiser acrescentar os cogumelos, essa é a hora!
Quanto ela estiver bonita e bronzeada, sem aquela aparência de carne crua, você junta o molho de tomate (sempre acrescento um pouco mais de sal e pimenta nessa hora), quebra, com a ajuda de uma escumadeira, os tomates, para que eles fiquem pequenininhos e façam mais suco, e espera entre 10 a 15 minutos para que o molho encorpe e tome forma.
Lembre-se que não é brigadeiro e que o molho não tomará, assim, tanto corpo. Digo isso porque, nós, os iniciantes, temos o dom de cozinhar de menos ou queimar de tudo um pouco, então o segredo é esperar que a mistura engrosse o suficiente até começar a desgrudar, delicadamente, da frigideira, como se fosse parte de um todo (lembre-se das aulas de química sobre misturas homogêneas!)
Massa
Logo ali ao lado, com a água salgada (tem que por sal ou a massa fica insossa!) e fervendo, na maior panela da sua cozinha (critério de grandeza para ser utilizado apenas pelos que têm panelas em tamanho modesto e mal sabem que as têm), acrescente a pasta e deixe ferver pelo tempo previsto na caixinha. Sempre ponho a massa para ferver na hora em que junto o molho de tomate à carne, porque assim eles ficam prontos quase que ao mesmo tempo.
Finalização
Quando tudo estiver prontinho, derrame o molho sobre a massa, misture bem e sirva em seguida!
É um ótima opção para cozinheiros de primeira viagem ou cozinheiros da hora do desespero e da barriga vazia. Deve ser servido quentinho, acompanhado, de preferência, por coca-cola light, podendo ser apreciado, sem problema algum, na frente da TV. Não existe melhor comidinha para noites frias, desejosamente solitárias e preguiçosas, em que livro e moletom são a melhor das companhias.
Também pode ser degustado ao lado do ser amado, desde que mantidos os requisitos do friozinho e da preguiça, sempre à noite e, de preferência, sentados no chão, assistindo a um filme dos bons, com velas e vinhos.
É um prato “para” e “da” preguiça, altamente indicado para aqueles momentos em que tudo o que se quer é sentir-se confortável, saciado e alimentado! Em resumo, de barriga deliciosamente cheia.


quinta-feira, 5 de abril de 2012

Liquidificando incoerências

Incongruências de um primeiro mundo desenvolvido, rural e pequeno que em tudo se contrasta ao meu terceiro mundo subdesenvolvido, citadino e gigante.
São para elas que o meu nariz adulto e urbano, vez ou outra, ainda se torce, em pura rejeição; enquanto os meus olhos de criança de apartamento, todas as vezes, sempre se abrem, em admirado brilho; e o liquidificador instalado na minha cabeça de um tudo processa, na tentativa de extrair da mistureba o melhor da dessemelhança.
Porque não é tão fácil assim associar terno e gravata a cheiro de estrume. Na menor cidade mais cosmopolita do mundo, executivos de uma gigante do chocolate cruzam, pra lá e pra cá, as faixas de pedestre - sem farol, enquanto o motorista, educadamente, aguarda-os passar - misturando à balbúrdia de um horário corrido de almoço, todas as línguas possíveis de serem faladas e também o cheiro dos campos recém adubados.
É que o leite garantidor do sucesso desse chocolate é ordenhado logo ali em cima, trazendo diversidade e mundo para a cidadezinha na beira do lago, enquanto Mimosa e Mococa pastam alegremente, comendo seu capim fofo e clorofilado, há poucos quilômetros de onde o almoço executivo é servido.
E o que acha de contar carneirinhos e desembarcar, logo mais, em Paris? Da pequena estação de trem, em formato simpático de casinha de bonecas, cruzo toda a Europa e chego em Paris em menos de 4 horas, mas não sem antes observar da janela do meu trem, Cachecol, Echarpe e os três bebês ovelhas que nasceram com a primavera.
É o resultado de uma densidade demográfica considerável, espremida em um país pequeno, cercado por montanhas e recheado por lagos, obrigando a cada pedacinho de terra, incluindo o logo ali ao lado da estação, ser aproveitado da melhor maneira possível. Puro contraste à densidade que estou acostumada, espalhada por um país continente, invisibilizada a olhos nus - o que termina ajudando, e muito, aos olhos que também não a querem ver -, e cuja infinitésima menor parte, a qual posso dizer que pertenço, finge que todo esse país imensamente imenso, resume-se, apenas, ao certo desenvolvimento da sua maior cidade.
Também é possível encontrar raposas espreitando galinhas chinesas, que correm para se esconder no meio das vinhas desistindo da presa, assim que avistam a sua pessoa possivelmente recém-saída de um bar glamoroso, com vista cinco estrelas para o lago, onde provavelmente você tomará champanhe originária do país avistado logo ali na frente, e será tratada como em qualquer outro bar glamoroso do mundo.
Torço o nariz, mas não deixo de abrir os olhos. Enquanto admiro a capacidade com a qual harmonizam incoerências - ao menos, incoerentes no meu mundo, por lá tomarem a forma de realidades distantes e distintas -, e passam da ordenha à pâtisserie, do trator ao rolex, da brasserie rústica ao hotel palácio; simplificando o sofisticado, sofisticando o natural, integrando-os sem jamais esquecer de que são e estão necessariamente conectados e dependentes. Um não existe sem o outro, portanto não se negam, nem se excluem, convivem, em sinuoso, neutro e excêntrico - suíço - equilíbrio.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Oi, você quer ser meu amigo!?



A maior desvantagem de mudar é deixar amigos para trás. E por mais que o mundo tenha diminuído com as múltiplas possibilidades da internet, chats no skype jamais substituirão almoços sem hora para começar ou terminar, andanças indefinidas, idas de última hora ao cineminha, cafezinhos de fim de tarde, bebericos de começo de noite, e todos os múltiplos programas que inventamos só para contarmos, escutarmos e compartilharmos a vida com essas criaturinhas indispensavelmente adoráveis que adotamos como “irmãos camaradas”, de acordo com a definição do Rei Roberto e seu, claro, amigo Erasmo.
É dureza aterrissar em cidade nova e desconhecida e não ter conhecimento de seu ninguém! Eu e marido sentimos falta dos que nos fazem falta e procuramos, com afinco, preencher esta ausência que se instalou em nossas vidas. Ocorre que nas nossas tentativas de recapear o buraco da amizade, tem aparecido de tudo um pouco, mas tudo bem porque, no final das contas, somos maleáveis, esclarecidos, tolerantes, virginianos, compreensivos... até chegarmos ao nosso limite ou eu chegar ao meu!
Antes de mudar, fui recomendada por uma amiga querida a uma outra amiga dela, que morava na região. Com a segurança de quem conhece a minha causa, garantiu que eu e ela tínhamos tudo para nos transformar nas mais novas BFF’s da década. Troquei e-mails mil com a moça, planejamos encontros e apresentações, até que ela me informou que estava de partida para a Espanha, justamente no mesmo mês em que eu chegaria... E lá se foi a minha BFF...
Como seguia carente, mantive amizade virtual com a moça que, sensibilizada com a minha causa, resolveu apresentar-me, virtualmente..., às suas amigas ainda residentes na área. É que eu demandava muito e ela não tinha resposta para toda a minha enquete: cabeleireiro, sobrancelha, unha, depilação...
E foi aí que fiz amizade virtual com as amigas da minha amiga virtual. Mandado o e-mail introduzindo-me ao grupo, a adesão à minha causa foi um sucesso! Tenho o telefone de todas as cabeleireiras, depiladoras, manicures e até banqueteiras sul americanas que perambulam pela área. O chato foi que as minhas tentativas de “desvirtualizar” a relação não deram muito certo... Não sei se por ter sido dezembro, o que sei é que a argentina estava a caminho de Buenos Aires, a mexicana de partida para Guadalarára e a brasileira, trabalhadeira, muito ocupada. Ficou nisso e ninguém necas de pitipiriba para a minha pessoa. Mas, cheguei à conclusão de que foi melhor assim, ou me sentiria em um blind date da amizade, esperando a gazela em um café helvético, com uma rosa na mesa para que ela me reconhecesse. Saco!
Ocorre que os dias foram passando e o desespero pela amizade fazia com que enxergasse um potencial amigo em todo e qualquer transeunte. Foi assim com a colombiana que me vendeu um pisante. Simpática como só os do lado americano do hemisfério sul sabem ser, entabulou um portunhol comigo que não teve mais fim. Contou-me toda a vida em cerca de meia hora e pediu, urgentemente, para que trocássemos e-mail, pois assim poderíamos, qualquer dia desses, tomar um café. Fiquei tão feliz! Dei prontamente o meu e-mail, mas... caindo em mim, pensei: o que sei dessa cidadão!? E se ela for uma louca, psicopata, sapatona e/ou ladra de maridos!? Na dúvida, joguei o papelzinho fora...
Para falar a verdade, temos um só, filho único de mãe solteira, amigo, que trabalhou com marido na África do Sul e, assim como nós, para cá também seguiu. Ele também sofre para fazer novas amizades (não preciso falar que suíço não é exatamente o povo mais caloroso e receptivo do mundo, preciso!?) e pensando em incrementar a vida social, resolveu aderir a um time de rúgbi com quem costuma sempre sair. Convite feito para a baladinha logo mais à noite, fomos lá ver o que nos aguardava e conhecer os potenciais amigos.
Em meio a meninos grandes - ou nem tão grandes assim, já que um deles era um argentino que batia no meu ombro, dando-me a sensação de que eu também poderia jogar rúgbi - cheio de tatoos e arrotos pós cerveja ainda maiores do que eles, não rolou empatia nenhuma ou, se quer, uma troca de palavras, e assim voltamos para casa possuidores do mesmo amigo único de sempre.
É verdade também que marido não deu lá muita sorte no quesito simpatia e camaradagem entre os colegas de trabalho, o que torna ainda mais penosa a busca pelo verdadeiro e leal amigo. De qualquer forma, foi com esperança no coração que, também em dezembro, nos dirigimos ao jantar de final de ano da “firrrma”, afinal, há sempre uma chance das coisas mudarem em um ambiente descontraído! Mas, aonde estava a descontração!? Onde ela foi parar ou se esconder!? Assim que cheguei, lembrei dos almoços de final de ano da minha lendária “firrrma” de “adevogados”, onde trabalhei com a Juju: ninguém tinha nada a ver com ninguém e as pessoas só estavam ali, nitidamente, para cumprir o dever e a obrigação de celebrar com os que passavam o ano inteiro meramente aturando e tolerando.
Esse era o clima da ocasião e foi com ele que sentamos na primeira mesa avistada com dois lugares sobrando, em meio a pessoas que marido, recém chegado na “firrrma”, conhecia um pouco melhor do que as outras. Na verdade, eu tinha um target a atingir: o alvo da minha amizade era uma mexicana, também advogada, que como eu tinha acabado de chegar acompanhando o marido, aprendia francês e fazia o tal LLM que havia me interessado. Estava ansiosa para conhecê-la, porque, afinal, tínhamos coisas em comum, até que ela adentrou triunfalmente no recinto, sorridente, bonitona e “maquilada”, corpulenta e de cintura fina, no melhor estilo latina caliente de novela, naturalmente, mexicana, do SBT... Não foi dessa vez que o santo bateu e assim mudei rapidamente de alvo.
Sobrou-me, então, vasculhar a mesa de semi-conhecidos de marido. Do nosso lado, sentou-se um casal cuja vertente masculina enchia os ouvidos de marido até marido sorrir amarelo e não mais disfarçar a sua falta de atenção. O tal moço, com cara de ratinho engomado pela avó, gabava-se da época em que tinha sido expatriado em... Madagascar (acho que ele era um personagem do desenho animado...), encontrando respaldo para tudo o que falava na vertente feminina do casal, que tinha a forma de moça grávida do segundo filho, linda, jovem, mas com um jeitinho de - não posso encontrar melhor definição do que a que damos em Recife - “abestalhada”, sorrindo, resignada, com a sua condição de esposa de expatriado que, por morar pelo mundo afora (Madagascar + uma cidade minúscula na Suíça...) não viu outra alternativa para a sua jovem vida a não ser desistir de qualquer espécie de carreira, trabalho, emprego; criar e gerar filhos; e participar de um clube para o qual ela, animadamente, convidou-me a frequentar e, prontamente, anotou o meu telefone em um bloquinho de papel rapidamente sacado da sua bolsa, para que assim mantivéssemos contato e pudéssemos ir juntas ao tal clube.
Calma, que o clube merece um parágrafo próprio... Clube ou confraria, é um local onde as esposas de executivos expatriados se reúnem semanalmente para, aspas dela e parênteses meus: “cozinhar! nós trocamos receitas (jesuise!) e cada semana uma faz um prato diferente!”; “bater papo! as italianas, passam a tarde fumando e falando (provavelmente, mal, dos maridos que as colocaram nessa enrascada...) sem parar!”; “aprender uma nova língua, já que tem mulheres do mundo todo (imagino a fluência e a verborragia do encontro...)”.
E para finalizar o relato, o ratinho marido completou: “É, lá eles fazem de um tudo para manter a mulherada ocupada!”
Enquanto ela ia me falando todas essas coisas, eu fui entrando num estado de confusão mental e quase choque porque nunca imaginei na vida, que um lugar como esse existisse. Deu até uma vontadezinha de chorar, só de me imaginar fazendo uma comidinha em meio a desconhecidas faladoras de todas as línguas do mundo.
Juro que não sabia o que dizer e que a única coisa que pude fazer foi... rir amarelo e dar o meu telefone para ela dizendo que sim, seria “ótimo” passar uma tarde com “elas”...
Do meu lado, havia sentado uma fêmea de outra “catigoria” do tipo, digamos, “gente como a gente”, que também escutou ao relato perplexa e que, vendo a minha cara de desespero, segurou o meu braço, tomou um bom gole de vinho, olhou-me com seriedade e disse “you better find a job!”, eu só pude concordar (sem nunca ter discordado!) e pedi, a ela, solteira e simpática que, por favor, quando você tiver alguma coisa para fazer, você me chama!?
Acho que o meu desespero foi tão aparente que, em menos de uma semana, ela me convidou para conhecer duas outras amigas, em um happy de meninas. Fui eu lá, sozinha e destemida, com todo o apoio de marido, em uma noite fria e chuvosa, sem saber o que me aguardava. Encontrei mais duas da categoria “gente como a gente” e diverti-me muito com elas naquela noite. Com uma delas, ainda encontrei depois para um café, mas... é todo mundo ocupado, corrido e eu, a toa, fico sem graça de impor a minha presença no grupo, afinal, passados alguns e-mails sem retorno, insistir no encontro é entrar na mendicância da amizade...
Dei um tempo, juntei forças e aí chegou janeiro, renovando a esperança! Começaria o curso de francês e tive o cuidado de escolher uma escola com pessoas mais velhas, que morassem, de fato, por aqui, saindo fora da cilada que seria entrar em um daqueles cursos de férias, cheios de adolescentes estrangeiros que, como eu já fiz um dia nessa vida, inventam que querem aprender uma língua só para passar as férias na Europa. Dá licença, mas eu não estou de férias, estou a serviço e a minha missão é fazer amigos!
Começado o curso, deu para ver que a minha - falta de - sorte com os amigos da “aulinha de inglês”, não tinha mudado muito. Lembro bem que quando passei dois meses brincando de estudar italiano em Firenze, tive a opção de escolher se queria me hospedar em uma casa sozinha ou com outros estudantes. Escolhi, lógico!, com outros estudantes, pois assim incrementaria a minha chance de fazer amigos, o que não foi o caso, ao menos não em casa: o meu “amigo” era um senhor de 62 anos, por ironia, suíço e antipático, que passava as tardes observando obras de arte com um binóculo e comentado-as durante o jantar, enquanto eu, aos 21, passava as mesmas tardes enchendo a cara de birra na fontana mais próxima com os amigos que, ufa!, havia feito em lugar outro, e sempre chegava atrasada para o tal jantar, tendo que agüentar a cara feia dele e da dona da casa.
Bom, fato é que agora os tempos são outros e, ao invés de cerveja na fonte, eu tomo vinho em meu sofá creme, enquanto lembro que o curso de francês não foi a fonte inesgotável de amizades que eu imaginei. Entre um lituânio que eu julgava alemão e uma suíça-alemã que eu julgava britânica - por pura falta de compreensão do sarapatel de sotaques que foi a nossa apresentação em francês, no primeiro dia de aula - a “liga”, ingrediente fundamental para a amizade, não “se deu” com eles, nem com a americana que desistiu do curso no meio do caminho, a australiana que vive em outro planeta e a japonesa que entra muda e sai calada, mantendo contato apenas com o seu pad.
Não posso negar que a suíça-alemã tenta, e muito, ser minha amiga. Um dia, até pensei em tomar um cafezinho de final de tarde com ela, mas, o que exatamente conversarei com uma menina de 16 anos!? (Pois é, não falei da sorte com os amigos da aulinha de inglês!? Tive o cuidado de escolher um curso noturno, supostamente freqüentado por adultos, e termino com uma coleguinha adolescente...) Ela tem 16, é um gordinha simpática de bochechas rosadas no melhor estilo ar-saudável-dos-Alpes, e sempre me acompanha no final da aula até a estação de trem. Quer aprender francês porque - quando crescer... - pretende trabalhar com turismo e hotelaria. Foi por isso que decidiu passar esse ano em Lausanne, onde estuda francês à noite e trabalha durante o dia como uma espécie de governanta em uma casa de família que a hospeda (aliás, por aqui, isso é bem comum entre os teens que querem aprender uma língua e reduzir os custos da viagem). Ela é originária de uma cidadezinha minúscula da Suíça alemã e considera Lausanne uma cidade grande. Jubila de excitação e rebeldia ao atravessar a faixa de pedestres quando o sinal ainda está vermelho para os transeuntes, uma atitude que toma como transgressora (em Lausanne, parte francesa, eles ainda fazem isso, mas, pelo visto, na alemã, nem pensar...) e, outro dia, veio, desesperada, perguntar-me o que fazer porque um homem estranho e mal encarado havia sentado ao lado dela no trem, puxado conversa, perguntado o nome e o telefone dela e ela, com medo de não falar e sofrer alguma espécie de ataque ou perseguição, deu (!!!!), e agora o mal encarado ligava para o “cel” obstinadamente. Primeiro, disse que ela não deveria falar com estranhos (essa é básica, não!?!?!?!), segundo perguntei se ela não sabia mentir, e ela ficou mais vermelha que pimentão. Pelo jeito, não...
É, a empreitada da amizade não tem sido fácil! Fato é que, agora em março, com a primavera florindo na minha porta, eu desisti de insistir no tema. Eles aparecerão quando tiverem que aparecer e ponto final! Descobri que 1) ando com muita preguiça de gente nova, de forçar amizade e começar do zero com pessoas que não me dizem nada, provenientes de lugar nenhum; 2) já fiz amigos para toda uma vida e com eles conto sempre, nem que seja via skype, e-mail ou por este blog para o qual nunca escrevi um post tão longo (perdão!), portanto, prefiro mantê-los à distância do que angariar novidades... De qualquer forma, sigo tentando... Por sinal, preciso marcar um café com o meu próximo prospecto de amigo, dessa vez, indicado pelo meu pai: trata-se de um padre, sacerdote católico, que mora há 25 anos em Lausanne e que o meu pai conheceu em janeiro, em Jurerê Internacional. Pitoresco, não!? Se não rolar amizade, ao menos vira uma boa estória para ser contada por aqui...

quinta-feira, 29 de março de 2012

O que é Arte?

Resolvi reconhecer que fui criada para ser médica, engenheira ou advogada, com as opções ressaltadas de ser “esposa”, “dona de casa” ou “dona de boutique”, essas eram as escolhas, que eu me lembre. Como sempre adorei ver as mulheres de terninho, pasta na mão e falando com propriedade, não duvidei ao seguir a carreira de advogada.

Apos estágios, empregos, sociedades, pós graduação e mestrado fora, eu aproveitei o fora no sentido “overseas” and “abroad”, para explorar outras opções que eu nem sabia que tinha. Ta aí, me encantei com o “abroad”. Talvez porque seja ainda mais desafiante, ou porque queria fugir da realidade anterior, ou porque gosto de aprender outras línguas e culturas, ou porque sou novidadeira mesmo, ainda não sei.

No “abroad” o contato com a arte é imposto, não é algo distante nem “nerd”, está em toda a esquina, disponível a todas as classes econômicas e sociais, não passa desapercebido. Meu circulo de amizades se expandiu, saiu da rodinha mercado financeiro, advogados e só. Encontrei de um tudo, e me embasbaquei com tantas outras profissões existentes.

Eu, sinceramente nunca tive muito contato com a tal da arte, ou por falta de interesse ou por falta de apresentação a ela, além de que, não fazia parte da minha lista: foi criada para... Em NY, encontra-se cursos para dar, receber e vender, entrei na onda e aproveitei para fazer curso de fotografia, já que sou aquela chata que sempre leva máquina no restaurante, aniversário, na balada, no bar, sendo turista ou não.

Estava amando o tal curso, com informações produtivas sobre abertura da lente, velocidade, ISO e luz. Quando chegamos ao projeto final a criatividade tinha que aflorar, matutei, matutei e percebi que sou tão limitada e entediante quanto a lei. Nada de criatividade, parece que a parte direita do cérebro nunca foi muito explorada. Quando olhei o projeto de outra colega pensei a mesma coisa: puxa que falta de criatividade, que fotos esquisitas, mas quando mostradas no telão, para minha surpresa a classe e a professora soltaram um uníssono: OOOOOOOHHH! Isso é tão artístico!!! Minha cabeça deu nó. Um choque com a tal da arte. Mas quem pode contestá-la? A Arte é para ser apreciada, ou te traz um prazer ao vê-la ou desprazer. Li num livro sobre a história da arte que sua fundamental importância é a comunicação intelectual que mesma nos traz. Claro que este Parágrafo me aborreceu, eu fui a única que não viu arte ou comunicação visual num pires de chá amarelo encima de uma mesa branca. Agora será que todos vêem? Ou será que existe um medo de contestar a arte. Eu achei uma falta de imaginação, uma ausência de cores e formas, mas não tive coragem de contestar, como deveria e quem sabe assim me fizessem, talvez, enxergar a tal da Arte no pires.


quinta-feira, 22 de março de 2012

Era uma vez uma cidade com lindas calcadas de pedras portuguesas

E ja que estamos falando de saltos... As calcadas de pedras portuguesas do Rio de Janeiro sao lindas, um verdadeiro patrimonio historico, e eu certamente seria a primeira a protestar se quisessem subtituir as pedrinhas pretas e brancas por um concreto sem a menor graca. Mas quem ja andou de saltos nas belas calcadas, sabe que e' um verdadeiro teste para o Cirque de Soleil - se voce conseguir nao torcer o pe, esta aprovado! Ontem mesmo, ao chegar do trabalho, fui acometida por um otimismo irracional, resolvi nem subir para mudar o "traje" dos pezinhos para as minhas amadas havaianas (que alem de nao ter cheiro e nao soltar as tiras, nunca me decepcionam! E se voce nao se lembra desses anuncios das havaianas, provavelmente e' jovem demais para lidar com temas tao profundos quanto os discutidos nesse blog). Me mandei direto para o supermercado. Ora, eu so precisava comprar umas frutinhas e o supermercado fica a 3 quadras da minhas casa. Doce ilusao... Os pezinhos foram e voltaram sofrendo, assim como eu que tentava, em vao, manter a pose e o andar de quem esta no catwalk. Tolinha... Mas no fundo, o que mais tem me incomodado nas pedrinhas portuguesas ultimamente e' o fato de que elas destroem a aparencia de qualquer salto. Bastam 5 minutos para que elas facam com que seu salto pareca que foi martelado por todos os lados. O porem e' que recentemente comprei um par de sapatos que me faria sentir tao poderosa quanto a propria Angelina, nao fosse o fato de que nao consigo usa-lo. Sim, pois a maison da pessoa que vos escreve fica tao proxima ao burburinho, que seria ridiculo pegar um carro para encontrar as amigas naquele bar ou restaurante que tanto combina com os sapatos poderosos e assim preserva-los do massacre. Passa dia, entra dia, eu calco os sapatinhos e logo me vem a cabeca a imagem daqueles saltos maravilhosos todos marcados pelas pedrinhas bicolores. E eu, troco os sapatinhos por uns sem metade da bossa e me vou, andando cabisbaixa pela calcadas destruidoras. Depois de muito pensar no assunto, cheguei a conclusao de que o que falta e' um principe, que venha buscar os sapatos e leva-los para brilhar em publico. E ja que nao sou Cinderela para ficar esperando que o principe venha ate a mim, vou a luta atras do principe que ira salvar os sapatinhos da masmorra. Torcam por mim!