quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Papéis

Hoje ja fui mãe dos meus pais quando queria ser filha, virei adolescente e desvirei, dormi criança, fiz birra, acordei madura, duvidei. Na hora do almoço cheguei a ensaiar um papel de filha e pedi ajuda. Questionei. Fui mulher e percebi a elasticidade de ser.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Vontade de 1920!

Bateu uma vontade de 1920! Vontade curiosa de saber um pouco mais sobre esse tempo onde as saias encurtaram, as meninas passaram a usar batom vermelho e a dizer descaradamente o que pensavam, enquanto dançavam ao som de jazz e charleston.
A Primeira Grande Guerra havia acabado e o mundo respirava com alívio, espanto, medo, encantamento e euforia. Alívio pelo fim. Espanto pelo número de mortos produzido pela primeira das guerras tecnológicas. Medo do que estava por vir. Encantamento com o poderio americano e o advento de uma indústria de consumo. Euforia em viver cada dia como se fosse o último.
E foi assim que, até a quebra da bolsa em 1929, parte do mundo viveu a Jazz Age dos States e os Années Folles da França, para onde podemos voltar sempre que lemos Fitzgerald e os seus This Side of Paradise, The Great Gatsby, Tender is the Night..., e sentimos o glamour e o exagero da época, a embrionária emancipação e ousadia das fêmeas, a vontade do “novo” sentida por uma juventude dita perdida pelo próprio autor que, juntamente com a sua Zelda, festejou com essa mesma juventude mais do que ninguém, extasiados e desnorteados, como que para esquecer a crueldade e a falta de sentido trazidas pela guerra, ao mesmo tempo que celebravam e usufruíam a pujança de um mundo que crescia e enriquecia.
Foi em meio a essa tentadora e louca balbúrdia, regada a muita champagne e boêmias sem fim, que floresceu no mundo o modernismo de escritores como o próprio Fitzgerald e seu amigo Hemingway;  o surrealismo de Dalí; o cubismo de Picasso... E a arquitetura e as chamadas artes decorativas viram surgir uma nova estética, chamada art-déco, que influenciada por ideias modernistas e funcionais, geométricas e meramente belas, criou o conceito do “simples, porém sofisticado”, dando forma a móveis, luminárias e balangandãs de todos os tipos e harmonias possíveis, além de construções únicas como, ele mesmo, o Cristo Redentor no Rio de Janeiro, o Empire State Building e o Chrysler Building em Nova York, entre outras pelo mundo a fora.
E para não dizer que não falei de flores, ah... os vestidos!: o jeitinho melindrosa de ser; a liberdade de não usar mais os corpetes do início do século; as pernas que se deixavam à mostra, transformando tornozelos em objetos de desejo; o tom claro das meias antecipando vontades de pele de fora; a soltura dos vestidos que mesmo larguinhos, delineavam um corpo ávido por se exercer livremente; as franjas que dançavam conforme as notas dos saxofones; o luxo dos acabamentos para fazer bonito nas festas; delicadeza, feminilidade, leveza, sedução! Sem falar em Coco Chanel inventando o que usamos hoje, simplificando a complicação de outrora, vestindo e preparando, com adequação e estilo, essa mesma mulher, para que ela pudesse realizar as suas vontades e tomar as rédeas do seu destino.

Bateu essa vontade de 1920 porque, talvez, de forma inversa, sem pujança e em crise, ou ainda não sentindo o efeito total da crise, após tempos economicamente exuberantes, ainda vivamos um pouco desse mesmo hedonismo. Ou porque épocas incertas, como as de hoje, incitem um pouco dessa vontade de festejos sem fim; de consumo sem fim; de exibição sem fim... Quiçá, só pelo hedonismo, inegavelmente presente todos os dias. Ou ainda em razão da incerteza do presente gerar essa inveja nostálgica dos que festejavam sem se preocupar. São muitos os “talvez” e nenhuma é a “certeza” da origem dessa vontade, porque não sou capaz, como Fitzgerald o foi, de prever todo um tempo e sobre ele escrever mediunicamente, antes mesmo que ele começasse. O que sei é que tenho essa vontade e que a história, inegavelmente, repete-se, embora variando em seus motivos e nuances...
E o que sei também é que não sou a única com esse desejo, pois tenho sentido com uma certa frequência esse perfume por aí, seja no remake de The Great Gatsby estrelado por DiCaprio, e com lançamento agendado para dezembro deste ano; na bela coleção primavera-verão 2012 da Gucci, que não só remete a elementos déco como usa e abusa das formas de 20, traduzidas maravilhosamente para a festa de agora; na também leve coleção para a mesma estação da Ralph Laurent, inspirada na personagem feminina principal de The Great Gatsby, Daisy Buchanan (aliás, Ralph Laurent assinou o lindo figurino da primeira versão do filme, com Robert Redford e Mia Farrow); no próprio The Artist que me encantou no final de semana passado; no engraçadinho Midnight in Paris do Woody Allen, enfim, os anos 1920 estão soltos por aí e vale apreendermos o que de melhor eles deixaram!


quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Carcaça

Há dias em que eu queria me despir da minha pele, queria livrar minha alma da carcaça que tanta dor me traz. Porque a alma é soberana e merece a plenitude, merece se esparramar, fluir como um corpo líquido numa superfície plana. Mas a dor limita enquadra, aprisiona, deforma, destrói, corrói! Nestes dias é pelas lágrimas me permito transbordar, nelas me socorro, me alivio da inquietação que me traz a dor.
As horas passam e alma clama para degustar vida e a audácia me impulsiona e sigo a querer tocar o prazer, sem desprazer, como que num desejo inócuo de dissociar o antagônico, como se pudesse, um dia, separar o escuro do claro.
Pois que então seja, se desatache de mim, porque eu sou minha alma e não recosnheço este corpo que me consome tão fugazmente parecendo engolir o que me resta de pessoa. Sua textura é hedionda sua presença é repugnante. Eu te desprezo dor! Eu te queimaria, afogaria, mataria...não, morrer não, porque morrer ainda tem um sentido de eternidade e você não vai ser eterna, você vai desaparecer com a sua insignificância, vai derreter e escorrer pelos bueiros da avenida norte, percorrer quilômetros, se desfazer, ser um nada, um vazio, sem nunca ser encontrada, para nunca ser lembrada.

Mãos minhas


São com as suas, mãe, que elas, mãos, cada vez mais se parecem.
No redondo meio quadrado das unhas; na tortura de dedos longos; na saliência dos ossos; no verde ressaltado das veias.
Estranhas e graciosas.
As mãos, minhas, são, cada vez mais, como as suas, mãe.
Nossas.
Que me acalentaram, vestiram, ralharam, banharam.
Mãos da minha mãe.
Lindamente tortas.
Docemente queridas.
Minhas, agora.
Lembranças suspensas em mim.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Cinema Mudo



Domingo, saí do cinema... como posso explicar? Deliciada? Sim, deliciada. Fui assistir “The Artist” e encantei-me com a possibilidade de um filme mudo transportar emoções tão fortes e ao mesmo tempo, tão simples. Tinha de tudo lá: graça, vaidade, presunção; lealdade, gratidão, amor; arrogância, inveja, orgulho; apogeu, decadência, desespero, redenção... tudo enquadrado pelo luxo e extravagância dos anos 1920, fazendo-me lembrar que - em meio às tramas mal feitas e apressadas que semanalmente invadem os nossos cinemas, cheias de bombas explodindo bem em baixo da nossa poltrona - reclinável, claro -, tamanha a eficácia e potência do sistema de som, e de lutas e assassinatos em slow motion - só gostamos de cinema porque cinema emociona. E ponto final. Para isso, é preciso apenas uma boa estória, uma que traga um pouquinho de todos nós para a grandeza da tela. E uma trilha sonora arrebatadora. O resto é vídeo game.

Pelo jeito, não fui a única a me deliciar: desde que assisti “E.T.” pela primeira das oito vezes, no longínquo ano de 1982, não ouvia aplausos a um filme. Mereceu as palmas, as minhas lagriminhas apressadamente secas - para não dar pinta de chorona - e, certamente, merecerá muitos Oscars.

Para ser ainda mais que perfeito, como o pretérito!, acrescentou ao meu domingo uma certo perfume 1920 que sentira por aí, mas sobre este cheirinho eu falo depois...

Foto divulgação: La Petite Reine, ARP Sélection and Warner Bros. Pictures.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Picolé de Mão


Já incluí o tal do “tale safer” (muito bom!) lançado pela Fê na lista de aquisições para o “ixxxnou bordi”, e gostaria de aproveitar o tema glacial para compartilhar essa descoberta do universo das neves, que deve ser velha para os “ixxxquiadores”, mas que foi um dos melhores achados da vida para a minha pessoa com desconhecimento total de causa: trata-se de um “esquentador” de mãos! São umas almofadinhas que esquentam, de verdade, quando em contato com as mãos. Achei um produto muito mágico, revolucionário mesmo, porque, para uma pessoa com mãos de vampiro como as minhas, frias o ano todo, esse clima polar é um verdadeiro sofrimento. No pacotinho, eles recomendam que você mantenha as almofadinhas nos bolsos ou dentro das luvas, mas... sabendo que durante o momento de ação nas neves não daria para enfiar mão nenhuma no bolso, fiquei com a segunda opção: vesti a luvinha de seda, coloquei uma almofadinha em cada palma da mão e vesti a luvona de “exxxquiar”. O resultado foram mãos quentinhas durante toda a jornada!



quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O Esqui

Esquiar já é um verbo estranho de se falar em português: eu esquio, tu esquias?! O tal do esqui vem da palavra ski, em inglês, veja só que diferença: S-K-I, começa com um S puxado, dá todo charme. Este soa lindo, autêntico e aventureiro. Para mim esquiar não combina nem com a língua portuguesa e nem com a mulher brasileira.

Encontro-me aqui num país que não é o meu, louca par fazer amigos, e, quem um dia já mudou de rua, bairro, cidade ou país vai entender o que é tentar se enturmar. Foi então, nessa missão de fazer parte da sociedade local que esbarrei no pequeno problema do ski. Isso porque, de repente, na minha visão reta, perpendicular e colateral todo mundo esquia. No hemisfério, é Dupete e não quadrúpete está esquiando, equiou, esquiará.

Quando chegou o inverno por aqui o “meu conversê” se limitou, não esperei dois convites, quem acha que a fase da auto-afirmação se restringe a adolescência está muito enganado doidinha para ser parte da turma numa idade já, supostamente, auto-afirmada, me mandei para Vermont com a galera.

Abri a porta do carro e experimentei os -15C, que achei suportável por exatos 1 minuto e meio. Corri para dentro do chalé, abri a mala e fui colocar minhas coisas em ordem, coloquei as calças jeans no cabide, separei as saias das blusas e as guardei em gavetas separadas. Claro que eu tinha uma saia e blusa para cada noite. Iria de couro se fossemos para a balada e de renda se fossemos apenas jantar um fondue que tanto esperava.

Dormi com meu moleton, acordei embrulhada no edredom que nem um “burrito”. Descemos para o café da manhã e reparei que todos usavam as roupas “fofudas” e coloridas, e eu, de jeans. Uma falha irreparável para quem quer se enturmar. A gargalhada se alastrou. O moço, gringo, lindo, meu príncipe, que também não se agüentou de rir, me pegou na mão, me cobriu com todas as suas roupas extras me levou as compras. Foi quando meu horizonte se abriu, é um tal de meia especial, camiseta especial por baixo da blusa especial, para depois colocar o casacão colorido com a calça colorida, e para as mãos: dia 1 luva térmica embaixo da luva de esqui; no dia 2: uma tal de “mitten”. Na hora do xixi, era como descascar cebola, camada por camada. Quando dei mais uma olhada geral na loja vi um objeto estranho e engraçado: o “TailSaver”. Era o que eu precisava! Agora vou explicar como funciona o tail safer: é uma prancha de borracha, com um buraco no formato do final da coluna, entenda-se cocxis. Com turma ou sem turma, medo mesmo ninguém esconde, mas consegui esconder o objeto no sob as roupas puffys, ainda que fosse tamanho G, porque o P tinha acabado, como disse, o medo é só meu e a dor também.

Pior para mim foram os pés, foi quando não neguei a raça brasileiríssima. Como colocar aquela geringonça da bota de esqui? E a minha briga para esticar o joelho com a tal da bota foi cansativa e a bota ganhou, claro. Foi um tal de tira e põe a bota até “marreca” aqui acostumar. Agora sim, prontinha.

Enfrento o “lift” para a primeira descida, a concentração era tanta que nenhuma palavra saía da minha boca, nem um gemidinho de frio, paralisada de concentração, são 3 minutos infindáveis na esteira que leva na descida das crianças. Pronta, cheguei no topo (um topinho), já comecei a gelar de dentro pra fora, queria mais era que tirassem uma foto minha lá, na neve, de esquis, para ter a prova de qualquer estória que eu fosse inventar depois. E minhas pernas começam a tremer, mas o joelho não estica, mas tremo mesmo assim. “E agora José?” O pensamento é único: vou cair. Pensei no“ tail safer” e fui confiante, desci a primeira rampa de crianças sem snow patrol, sem tremedeira mas ainda um pouco muda.

Agora, quem me dera que a galera aqui, inclusive o meu moço parceiro fosse fanático por futebol, ficasse assistindo o jogo pela TV e não me aporrinhasse com o tal do ssssskiiiiii. Senão das próximas vou ter que achar um “body safer” do dedão a cabeça, porque é tanto medo que nem sei se vale a pena, mas isso só confesso aqui no blog, na vida real eu falo EU AMEI ESQUIAR! E estou me enturmando.




snowboard protection tailbone protection

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Supermercado de Conto de Fadas


Era uma vez um país gelado, povoado por casinhas de boneca, localizado nas montanhas e com um lago no meio. Eis que, neste país, todas as vezes que você dá o seu rolezinho na quitandinha da esquina, você se depara com absolutamente todos os tipos e combinações possíveis do seu chocolate favorito, com as suas canetinhas mais amadas e com os seus lápis de colorir preferidos, todos favoritos, amados e preferidos de toda a vida, logo ali, facilmente, todos os dias e horas, em abundância e precinho camarada!

É um sonho! 

Fora o fato de ser um lugar limpinho, essa é das coisas que mais amo na Suiça: Lindt, Stabilo e Caran d'ache ao alcance das minhas mãos - e tentações...- em qualquer idazinha básica ao supermercado.




domingo, 12 de fevereiro de 2012

Navegadores



Saudade apareceu em uma manhã no cerrado, antes que todos acordassem. Éramos apenas nós duas naquela sala e assim nos apresentamos: oi, meu nome é Cristina e eu tenho cinco anos; oi, tenho a idade do tempo, e virei sentimento, em uma língua falada por navegadores. Silêncio. Como só as manhãs possuem. Como só Saudade traz. E a minúscula sensação de ser uma só, na imensidão de todo um mundo. Imensidão tem tamanho? Qual o tamanho do mundo? Perguntei. O tamanho da sua própria vastidão. Sua, não dele. Do mundo. Respondeu Saudade.

Subi na cadeira próxima à janela, levantei os pezinhos, admirei esse não ter mais fim. Da Saudade. Do tempo. Do amanhecer em lilás. E não é que o céu acaba em uma curva? A Saudade. O tempo. O silêncio. O lilás. O redondo da Terra. A abóbada do céu. O que há por trás da curva? A praia, os avós, o colégio. E o que mais? Se você for lá olhar, precisarei segui-la por toda a vida. Sorri para ela. Consenti. Segura a minha mão? Preciso descer. Pedi. Pois não. Disse Saudade, estendendo-me a mão. E desde o caminho de volta ao meu quarto, Saudade e eu, nunca mais nos afastamos.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Pasaporteras del mundo!



E aí que eu resolvi atender o clamor da minha amiga Bianca Vega, mandei umas fotinhos para um tal concurso de fotografias que a marca onde ela trabalha estava promovendo e, não é que fui uma das ganhadoras!?

Já explico!

A Bia trabalha para uma marca espanhola muito original, chamada peSeta -

www.peseta.org -, que tive a oportunidade de conhecer quando em 2008 estive com ela em Madri, cujo conceito, espírito, atitude ou o que mais possa dar vida e personalidade a objetos, pode ser definido por esta frase em delicioso espanhol: “en peSeta junta arte, vida y empresa para hacer algo sentido e con sentido”. Lindo!

A peSeta enche os olhos de quem espia pela vitrine, e encanta os que por dentro da loja se aventuram. Eles produzem acessórios de todos os tipos de uma forma muito especial, colorida e, literalmente, costurada, numa espécie de patchwork cheio de charme!

O concurso desafiava os seus participantes a enviarem fotos tiradas em cidades desse mundão grande de deus que dessem liga com a peSeta, ou seja, que tivessem a ver com a marca e onde, de repente, eles pudessem abrir uma lojinha.

Quando lembrei do que confeccionavam, só um lugar veio e, veio imediatamente, na minha cabeça: a minha linda, Marim dos Caetés, Olinda!

Das fotinhos tiradas no verão 2010/2011, saiu a ganhadora da América do Sul - já que a seleção foi por continente: uma perspectiva colorida do casario colonial que encanta até a mais cinzenta das almas em dia de chuva!

O prêmio? Uma “pasaportera” cidadã do mundo, para, naturalmente, guardar o passaportinho... e esperar a próxima oportunidade de comer tapioca na Sé com os olhos grudados no mar, ou de visitar o Reina Sofia e admirar um pouco mais de Guernica...

As fotos ganhadoras e todas as outras demais enviadas foram lindamente publicadas no site da loja, copiado lá em cima!


terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Pro samba que você me convidou, com que roupa, eu vou!?!?!?


"Olho para duas caixas repletas de roupas que separei para dar e começo a me perguntar porque demorei tanto para perceber que aquelas roupas estavam fora de moda ou simplesmente já não mais me serviam.”

Quando a Pippa espertamente escreveu esta frase em seu “De volta para casa”, lembrei-me em meio às suas metáforas de uma verdade muito prática, simples, mas nem tão óbvia assim que, quando descobri, incrementou em muito o meu dia a dia.

Tem a ver com adequação e pertinência e se relaciona, justamente, com pilhas de roupas que não usamos mais ou com outras tantas que usamos, mas que, de repente, damo-nos conta de que já não mais nos servem, seja porque o nosso corpo mudou, as nossas prioridades mudaram, o nosso estilo de vida virou outro.

É que roupas, quer a gente queira ou não, são os objetos de uso diário que mais nos seguem, seja você um fashionista inveterado ou alguém que só se cobre para não andar pelado na rua. E quando algo muda, nem que seja o tempo..., elas necessariamente mudam com a gente!

E já que elas nos seguem e ornam tanto com a previsão do tempo, quanto com o ambiente que frequentamos, elas devem, minimamente, fazer sentido com essas duas variáveis (tempo x ambiente), devendo também, “maximamente“, fazer sentido - e muito! - com quem as carrega por aí afora...

Por muitos anos, a minha vida foi dicotomizada entre trabalhar das 09:00 até muitas horas como advogada em um escritório, e sair correndo para o happy, jantar, festinha ou batizado de boneca da noite. Em uma cidade como São Paulo, a coisa se passava correndo, voando, de uma personagem para outra, ou seja, de advogada a pessoa virava festeira sem ter tido tempo de “reagrupar” o vestir e passar a mensagem coerente ao momento.

Na época, acho que me encarava em partes, em pedacinhos, como se isso fosse possível, como se não fôssemos todos de uma vez só e ao mesmo tempo, a mesma pessoa, e como se o que somos atrapalhasse aquilo que queremos ser ou o que precisamos ser para chegar lá.

Por isso, quando comprava roupa para trabalhar, pensava excessivamente em uma formalidade, seriedade e sobriedade meio que estigmatizadas pela profissão e meio que levadas demasiadamente a sério por quem não tem muita idade, tamanha é a preocupação nessa época em se mostrar adulta, competente, respeitável...

É que, pensando bem, nada precisava ser tão sóbrio ou sério, justamente em razão daquela pouca idade e também porque, por mais que me esforçasse, a minha informalidade nata desbancava a rabugice da roupa, ao mesmo tempo que minha moderação e reserva, quando necessárias, sempre andaram juntas segurando naturalmente esta informalidade. Ou seja, para parecer séria e profissional, não era necessário me enterrar com pompas de velório em um terninho preto, mas na época eu não entendia isso...

E assim, acabava adquirindo pecinhas pesadas por demais, que nada tinham a ver comigo, o que ficava absolutamente claro no momento em que saia do escritório e ia encontrar os amigos, e que, vez ou outra, obrigavam-me a me despencar do trabalho até em casa, no meio de um trânsito de louco, só para trocá-las por coisa outra mais de acordo.

Foi quando cansada e insatisfeita de usar roupas que não gostava, e de manter várias intactas no armário por pura falta de oportunidade para usá-las, pensei que a solução seria criar um guarda-roupa meio termo, com pecinhas que me vestissem com satisfação nos lugares onde passava a maior parte do meu dia, e que assim pudessem tanto ser usadas no escritório, quanto no jantar ou happy de logo mais! Quando fiz essa descoberta, descobri-me feliz com o que vestia, todo dia e o dia todo, e não só em alguns momentos de aparição red carpet.

Parece bobo ou fulgaz, mas é um exercício de auto-conhecimento, de sentir-se bem com a sua própria pele, com o que você faz, com para onde você vai, e de se perguntar: quem sou eu e o que eu quero mostrar para que essa pele possa ser coberta de uma maneira que não a desfigure? Na época, eu queria que simplicidade e elegância andassem de mãos dadas com leveza e criatividade e deu certo! Essa é a minha receita, essa é a base de quem sou, fora ou dentro do trabalho, e de qualquer trabalho, na festa ou no supermercado, é assim que gosto de ser. E aí, às suas palavras básicas você mistura, vez ou outra, conforto, sensualidade, praticidade, delicadeza, pequenos ou muitos exageros...

O engraçado é que funcionou tanto que, mesmo tendo parado de trabalhar para atender à demanda da minha vida nova, continuo a usar as mesmas roupas que usei por anos para ir ao escritório, muitas vezes combinadas de maneira diferente, claro, mas que continuam absolutamente pertinentes comigo, porque, quem a gente é, a gente carrega sempre com a gente!

E o divertido é encontrar elementos novos que complementem e possam ser incluídos às mudanças de estilo de vida. No meu caso, eles foram três e incrementaram linda e confortavelmente o meu dia a dia de dona de casa e estudante de francês “das neves“, que pega o trenzinho e anda bastante, todo dia, para ir na academia, no supermercado ou no curso, entre outras localidades mais... sendo eles: uma bota de neve, uma wedge boot, que é aquela ankle boot com plataforma mais delicada e, hehe... um trolley para carregar compras do supermercado no melhor estilo senhorinhas europeias do pós guerra, que são muito espertas, e carregam os seus para lá e para cá!

A bota das neves é auto explicável já que, escorregar e correr o risco de se arrebentar inteira ou mesmo molhar os pés num friozinho de -12 como o da última semana, é fora de questão! Encarei o botão, mas escolhi uma meiga e arrojada, nada que me lembre uma bota lunar, podendo ser usada com leggings ou skinnies; já a botinha com plataforma, achei a melhor invenção deste inverno e me cai como uma luva! Adoro saltos, mas andar com um agulha ou mesmo meia patas por aí não é coisa possível de se fazer por longos quilômetros, especialmente quando, de novo, você tem gelo na rua... Assim, essas “botinas” me permitem fazer todo o percurso, cheia de graça e sem sair do salto! E por último, o trolley! Tem gente que acha que é coisa de avó: eu acho lindo, prático, conveniente e toda vez que o puxo, perco a vontade de ser uma daquelas deusas indianas com quatro braços e capacidade de carregar o mundo nas costas. É o melhor companheiro para a minha volta do supermercado!

Não sei quanto a vocês, mas eu encontro pequenas alegrias nessas miudezas, porque além de facilitarem a minha vida, deixam bem claro quem sou, de onde vim, onde estou, para onde vou! É um pouco da filosofia barata do sapato, mas... atire a primeira pedra quem nunca fez terapia na sapataria!

De resto, se temos que nos vestir, que seja com graça e sentido!

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Eu ou Quem?

Hoje eu acordei esquisita, talvez porque ontem fui dormir esquisita. O sonho era esquisito. O que é esquisita? Se eu soubesse usaria qualquer outra palavra ao invés de esquisita. Eu tento definir, mas só sei achar que sou esquisita, é uma sensação assim: como se estivesse fora de mim e de repente não fosse mim mesma, fosse outra “mim”. Quantas “mim” eu devo ter? Talvez eu não tenha contado quantas por ser tarefa difícil, ou talvez não tenha contado por medo.

Eu tenho uma “mim” que adoro, a que me alegra, sorri por dentro, me eleva, eu sei quando ela se apresenta. Quando estou com esta “mim” ou este “eu” por dentro e por fora, fico apta a tudo, de visitas ao pet shop a “shots de tequila”. Por fora este mim está sempre ali, para o porteiro, zelador e as pessoas da sala de jantar. (Marisa Monte)

O “eu” esquisito, ou um deles, quer chorar, descabelar, ou perguntar para Deus, Universo, Estrela ou você aí: por quê e mais por quês. O mais esquisito é que numa audácia, este mesmo “eu”, tenta responder e divaga sobre questionamentos infindáveis e se abstrai do trânsito; da conversa da festa; da aula de step; esquece de trancar a porta ou deixa o cachorro pora fora pois meu “eu” está quase chegando a conclusões e não pode se distrair com as tarefas básicas. Este “eu” encontra um certo aconchego numa taça de vinho e ouve a mestres como Toquinho e Vinícius que lhe respondem: A vida é uma grande ilusão mal nasce começa morre Sim! É isto que quero saber! E quero saber mais, porque eu sou eu e não você? Nesses dias, deste “eu” é como se “eu” vivesse no mundo da terra, que atrapalha suas andanças no mundo da lua onde tudo é mais profundo e atormentador e real para este. A terra se transforma num grande palco para atuar e realizar tarefas assim: iguais.

O outro “eu” é o mais comum, racional, presente, mas o igualmente distraído, porque está fazendo a lista do supermercado na reunião com o chefe e pensando na reunião quando está pagando no caixa registradora. Esta sou eu, meus “eus” amado(s), tanto desligado(s), mas nada despreocupado(s). Aliás, despreocupada é que não sou, em nenhum dos meus “eus”, porque a preocupação é como uma respiração para vários dos meus “eus”. Uma necessidade absurda, a que se não existir eu invento, ou o outro “eu” inventa, assim como invento os questionamentos, ou então descubro que nem os invento são parte de mim, da raça humana de dos soberanos pois concordo: Uma vida não questionada não merece ser vivida. (PLATÃO) E quem sou “eu” ou o outro “eu” para dizer o contrário.


quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Acordei hoje para um daqueles inacreditaveis dias que so' o verao pode produzir. Ceu azul, sem uma nuvem sequer, o sol ainda baixo batendo no mar, mar brilhando com a luz desse sol de verao, o verde das arvores ainda mais verde... Em suma, um dia daqueles que me fazem ter certeza de que Deus existe, pois so' uma forca divina pode juntar todos esses fatores de forma tao incrivel. Muitos riem de mim quando digo que na proxima vida quero ser uma gaivota, mas o que pode ser melhor para uma criatura como eu, que ama o mar e sente uma alegria enorme ao sentir a areia sob seus pes? Que privilegio e' morar no Rio, dar bom dia ao Cristo Redentor no caminho para o trabalho e, na volta para casa, mais uma vez agradece-lo por diariamente nos abencoar... Ainda bem que esse mesmo Deus, que cria dias como o de hoje, nos deu Vinicius de Moraes. E quem melhor que Vinicius (talvez Tom...) para escrever sobre esse estado de espirito que e' ser carioca... "...Um carioca que se preza nunca vai abdicar de sua cidadania. Ninguém é carioca em vão. Um carioca é um carioca. Ele não pode ser nem um pernambucano, nem um mineiro, nem um paulista, nem um baiano, nem um amazonense, nem um gaúcho. Enquanto que, inversamente, qualquer uma dessas cidadanias, sem diminuição de capacidade, pode transformar-se também em carioca; pois a verdade é que ser carioca é antes de mais nada um estado de espírito. Eu tenho visto muito homem do Norte, Centro e Sul do país acordar de repente carioca, porque se deixou envolver pelo clima da cidade e quando foi ver... kaput! Aí não há mais nada a fazer. Quando o sujeito dá por si está torcendo pelo Botafogo, está batendo samba em mesa de bar, está se arriscando no lotação a um deslocamento de retina em cima de Nélson Rodrigues, Antônio Maria, Rubem Braga ou Stanislaw Ponte Preta, está trabalhando em TV, está sintonizando para Elizete. Pois ser carioca, mais que ter nascido no Rio, é ter aderido à cidade e só se sentir completamente em casa, em meio à sua adorável desorganização. Ser carioca é não gostar de levantar cedo, mesmo tendo obrigatoriamente de fazê-lo; é amar a noite acima de todas as coisas, porque s noite induz ao bate-papo ágil e descontínuo; é trabalhar com um ar de ócio, com um olho no ofício e outro no telefone, de onde sempre pode surgir um programa; é ter como único programa o não tê-lo; é estar mais feliz de caixa baixa do que alta; é dar mais importância ao amor que ao dinheiro. Ser carioca é ser Di Cavalcanti." No fundo, acho que o estado de espirito esta dentro da gente. No Rio, em Sampa, NYC ou Lausanne, sao as coisas simples da vida que nos fazem feliz. Acho que vou decorar o texto do Vinicius e repeti-lo silenciosamente para mim mesmo em todos os dias que meu chefe estiver gritando comigo por algo que nao fiz, que o transito estiver enlouquecedor, que o inverno ja esteja parecendo interminavel com seus dias mais curtos e frio insuportavel, que minha lombar esteja doendo a ponto de me fazer andar como um soldadinho de chumbo, etc, etc... Nessa vida nao vim como gaivota, mas acho que Vinicius pode me ajudar a voar sobre o mar num dia de verao com mais frequencia.