domingo, 29 de janeiro de 2012

De volta pra casa

Acho que meu ano finalmente comecou... Depois de tantas viagens, estou de volta. E como eh bom estar de volta para iniciar um novo ano e abrir as portas para todas as mudancas que ele possa trazer. Sim... porque as principais mudancas nao sao as de cidade ou pais, mas aquelas que acontecem dentro da gente e acabam por alterar tudo ao nosso redor. Olho para duas caixas repletas de roupas que separei para dar e comeco a me perguntar porque demorei tanto para perceber que aquelas roupas estavam fora de moda ou simplesmente ja nao mais me serviam. Em outras epocas, talvez eu dedicasse meu tempo a responder perguntas como essa, o que certamente me faria levantar mais uma serie de outros questionamentos bem mais filosoficos sobre o que eu poderia ter feito e nao fiz. Ai, ai (suspiros)... Mas nesse comeco de 2012, ja nao faz mais sentido perder tempo remoendo o passado... Eu mudei e, de repente, faz tao mais sentido abracar o novo... Afinal, o que importa eh que o que nao estava tao bom assim, mudou. Como eh bom olhar para o meu armario e nao ve-lo entulhado, olhar para casa e ve-la decorada, nao ter aquela lista interminavel de pendencias pra resolver, etc, etc. Um dia de cada vez, a vida vai mudando, o velho saindo e o novo entrando. E que venha 2012.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Controle da Vida

Se a gente pudesse controlar a vida seria maravilhoso, maravilhosamente chato, entediante, como um rio parado que renega a natureza. No filme que assisti ontem, “ A river runs through it”, o escritor Norman Maclean conta a estória da sua família de forma interessante e profunda, de certo nenhuma bilheteria teria se não tivessem ocorridos na sua vida os fatos tão bem descritos pelo autor, sejam fatos alegres ou não, a vida muda e traz mudanças, a minha vida poderia ser um filme, e a sua também. O que é vivo mexe, move e remove, com ou sem licença para mover. Eu vou por inércia, por impulso ou pela expressão da vontade já raciocinada. Sinto uma força pontiaguda perfurando meu pé e percorrendo meu corpo me ligando entre o céu e a terra como um fio de aço, um fio que me arranca da imobilidade. Mas mudar nem sempre é prazeroso.

O conhecido é sereno e confortante, é delicioso saber o que encontrar na esquina ou na sala ao lado, é aconchegante falar oi para o atendente da padaria, que já sabe o café do jeito que você gosta, o que vem acompanhado do pão francês, que é tipicamente brasileiro, e só lá, no meu Brasil sabem o que significa pão na chapa e pingado. Adoro a minha cama, o meu bairro, e tudo mais que o pronome possessivo puder alcançar. Tudo é meu, mas não é! O meu, sou só EU e o que eu fizer de meu ao meu redor. Com o tempo percebi que o desejo de mudança fica aqui dentro e me inquieta, transborda, causa terremoto, não tem paciência, porque sabe que o lago parado é perigoso. Ao mesmo tempo que desejo me embebedar de serenidade e dormir na minha mesma cama, não quero cair na mesmice, no marasmo, então pulo, escolho outro caminho, sem saber o que esperar. É quando mais me sinto viva.

Nunca vou saber de ante mão se o caminho é certo, se é que existe certo e errado. Trocar de nacionalidade, língua, cultura, ruas, rostos, supermercado pode ser a igual a primeira mordida do bolo de chocolate ou uma colherada de pimenta com limão. Coube a mim decidir. O olhar para frente evita o choque da perda, porque na verdade nada foi perdido, nem o outro país, nem os amigos, nem as outras avenidas ou as lojas de bairro, tudo está lá, só houve uma expansão da sua bagagem, a bagagem da vida.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Mudança




Mudanças implicam em armários para esvaziar e malas para preencher. Em olhar para todo o acúmulo da sua vida e escolher o que segue com você e o que fica para trás. Foi assim naquele quartinho que poderia ter sido de tantas outras coisas, mas que foi mesmo dos livros, dos desenhos, das fotos, das lembrancinhas, dos hóspedes queridos e, no final, de uma mala vinda de outros continentes que, desde a primeira vez, quedou em se hospedar ali, ainda sem saber que com ela me levaria.

Entrei no quarto munida de sacos de lixo e disposição para toda uma jornada. Não sei bem por onde comecei, mas o que sei é que me perdi em meio à minha própria estória, passada e repassada nos últimos dez anos. O quartinho simples e branco, com o sofá cama forrado por uma manta cheia de pelos da Vitória, era na verdade, uma máquina do tempo, que me levou a cada fato, cada viagem, cada emprego, cada amigo, cada amor, cada sentimento angariado por esse passado.

O quartinho era um arquivo vivo da minha existência, por onde era possível descobrir todas as taxas do meu colesterol, todas as fases do meu útero, todas as minhas intervenções médicas; um retrato exato da profissional que fui, em todos os trabalhos que passei: listas ticadas de “to do”, anotações de reuniões, estudos, pesquisas, estruturas inteiras para a execução de pareceres ou peças; um recibo sem precedentes da festeira que sou: fotos e festas anotadas em agendas e mais agendas, além de todas as férias e seus destinos.

Pessoas que entraram, pessoas que saíram, pessoas que permaneceram em minha vida, marcadas geralmente em vermelho, em laranja ou em lilás, nos dias dos seus aniversários.

Faturas antigas, boletos pagos, comprovantes das aulas de boxe, de squash, de pilates, de yoga, de cabala, de torno e modelagem, de fotografia, de seminários e palestras tributárias, de cursos de moda, de aulas de inglês, italiano e... francês!

No meio de tudo, aquele notebook jurássico. Um Toshiba adquirido no ano 2000, pesado como todos daquele tempo. Há anos ele está aposentado. Foi quebrando uma coisa aqui, outra ali, até que o bichinho ficou relegado ao esquecimento e substituído por algo mais novo e interessante. Olhei bem para ele e foi incontrolável a vontade de desvendá-lo. Achei que o cabinho do meu novo note serviria para ligar a antiga bateria à tomada e, deu certo! No seu tempo, a tela se acendeu em cores desbotadas, revelando um papel de parede com um satélite gênero “uma odisséia no espaço”, e um ícone do IG, internet grátis, em um canto. Vendo que ainda funcionava, corri para os “meus documentos” e, estava tudo ali!, tudo o que eu não lembrava mais ter escrito com a ajuda do Word 97, em 2000, 2001, 2002, 2003...

E foi lá que encontrei o meu tesouro perdido, a oportunidade de “ler-me” e “entender-me”. Reconheço a fala, mas passou, mudou, virou outra coisa. Acho que ninguém aos vinte e pouquinhos se dá conta de como se é absurdamente jovem. No mais, a mesma ânsia de vida.

Matadas as saudades, saciada a curiosidade, fechei nos sacos de lixo coisas até então mantidas por acreditá-las valiosas, mas que o tempo se incumbiu de depreciar. Posso seguir sem elas e aproveito para abrir espaço para coisas novas. Comigo, decidi levar apenas o que penetrou a pele, contaminou o sangue, instalou-se no cérebro, agarrou-se ao coração; só lembranças e só as boas, porque as más fiz questão de esquecer; a certeza de vida passada a limpo, e a disposição para começar coisa nova.