domingo, 26 de fevereiro de 2012

Vontade de 1920!

Bateu uma vontade de 1920! Vontade curiosa de saber um pouco mais sobre esse tempo onde as saias encurtaram, as meninas passaram a usar batom vermelho e a dizer descaradamente o que pensavam, enquanto dançavam ao som de jazz e charleston.
A Primeira Grande Guerra havia acabado e o mundo respirava com alívio, espanto, medo, encantamento e euforia. Alívio pelo fim. Espanto pelo número de mortos produzido pela primeira das guerras tecnológicas. Medo do que estava por vir. Encantamento com o poderio americano e o advento de uma indústria de consumo. Euforia em viver cada dia como se fosse o último.
E foi assim que, até a quebra da bolsa em 1929, parte do mundo viveu a Jazz Age dos States e os Années Folles da França, para onde podemos voltar sempre que lemos Fitzgerald e os seus This Side of Paradise, The Great Gatsby, Tender is the Night..., e sentimos o glamour e o exagero da época, a embrionária emancipação e ousadia das fêmeas, a vontade do “novo” sentida por uma juventude dita perdida pelo próprio autor que, juntamente com a sua Zelda, festejou com essa mesma juventude mais do que ninguém, extasiados e desnorteados, como que para esquecer a crueldade e a falta de sentido trazidas pela guerra, ao mesmo tempo que celebravam e usufruíam a pujança de um mundo que crescia e enriquecia.
Foi em meio a essa tentadora e louca balbúrdia, regada a muita champagne e boêmias sem fim, que floresceu no mundo o modernismo de escritores como o próprio Fitzgerald e seu amigo Hemingway;  o surrealismo de Dalí; o cubismo de Picasso... E a arquitetura e as chamadas artes decorativas viram surgir uma nova estética, chamada art-déco, que influenciada por ideias modernistas e funcionais, geométricas e meramente belas, criou o conceito do “simples, porém sofisticado”, dando forma a móveis, luminárias e balangandãs de todos os tipos e harmonias possíveis, além de construções únicas como, ele mesmo, o Cristo Redentor no Rio de Janeiro, o Empire State Building e o Chrysler Building em Nova York, entre outras pelo mundo a fora.
E para não dizer que não falei de flores, ah... os vestidos!: o jeitinho melindrosa de ser; a liberdade de não usar mais os corpetes do início do século; as pernas que se deixavam à mostra, transformando tornozelos em objetos de desejo; o tom claro das meias antecipando vontades de pele de fora; a soltura dos vestidos que mesmo larguinhos, delineavam um corpo ávido por se exercer livremente; as franjas que dançavam conforme as notas dos saxofones; o luxo dos acabamentos para fazer bonito nas festas; delicadeza, feminilidade, leveza, sedução! Sem falar em Coco Chanel inventando o que usamos hoje, simplificando a complicação de outrora, vestindo e preparando, com adequação e estilo, essa mesma mulher, para que ela pudesse realizar as suas vontades e tomar as rédeas do seu destino.

Bateu essa vontade de 1920 porque, talvez, de forma inversa, sem pujança e em crise, ou ainda não sentindo o efeito total da crise, após tempos economicamente exuberantes, ainda vivamos um pouco desse mesmo hedonismo. Ou porque épocas incertas, como as de hoje, incitem um pouco dessa vontade de festejos sem fim; de consumo sem fim; de exibição sem fim... Quiçá, só pelo hedonismo, inegavelmente presente todos os dias. Ou ainda em razão da incerteza do presente gerar essa inveja nostálgica dos que festejavam sem se preocupar. São muitos os “talvez” e nenhuma é a “certeza” da origem dessa vontade, porque não sou capaz, como Fitzgerald o foi, de prever todo um tempo e sobre ele escrever mediunicamente, antes mesmo que ele começasse. O que sei é que tenho essa vontade e que a história, inegavelmente, repete-se, embora variando em seus motivos e nuances...
E o que sei também é que não sou a única com esse desejo, pois tenho sentido com uma certa frequência esse perfume por aí, seja no remake de The Great Gatsby estrelado por DiCaprio, e com lançamento agendado para dezembro deste ano; na bela coleção primavera-verão 2012 da Gucci, que não só remete a elementos déco como usa e abusa das formas de 20, traduzidas maravilhosamente para a festa de agora; na também leve coleção para a mesma estação da Ralph Laurent, inspirada na personagem feminina principal de The Great Gatsby, Daisy Buchanan (aliás, Ralph Laurent assinou o lindo figurino da primeira versão do filme, com Robert Redford e Mia Farrow); no próprio The Artist que me encantou no final de semana passado; no engraçadinho Midnight in Paris do Woody Allen, enfim, os anos 1920 estão soltos por aí e vale apreendermos o que de melhor eles deixaram!


6 comentários:

  1. Belíssimo e substancioso - culto! Vou reler e ja volto.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Fefs, em maio, quero fazer um tour milindrosa pela sua cidade!

      Excluir
  2. Já vou preparar o tour com glamour e assim vc poderá ver as vitrines "vintage" de NY e a gente pode ouvir o "Let's Do It, Let's Fall in Love" do Cole Porter por ai, porque: ''bees do it"
    And that's why birds do it, bees do it
    Even educated fleas do it
    Let's do it, let's fall in love"
    E é por tudo que vc escreveu que me bateu esta vontade absurda de ir a Paris de qq forma nem que seja voo solo.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Acredita que tinha acabado de ouvir essa música quando o seu comentário fez barulhinho no meu cel!? É um sinal! Vamos fazer o tour nas duas!

      Excluir
  3. Gastei agora umas boas horinhas do meu dia lendo todo este universo das abelhas!
    vcs estão incrivelmente perfeitas na arte da escrita, no amadurecimento da idéia, como estão cultas meu deus!
    deu uma vontade de sentar com vcs e passar horas conversando sobre a vida e de preferência vestindo uma roupinha bem melindrosa!!
    bjs bjs

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Que bom que gostou, Pati! A sua opinião é muito considerada nesta colmeia, rs... Estava com saudades das nossas trocas virtuais. Beijos e quero ler muitos posts seus!

      Excluir