domingo, 12 de fevereiro de 2012

Navegadores



Saudade apareceu em uma manhã no cerrado, antes que todos acordassem. Éramos apenas nós duas naquela sala e assim nos apresentamos: oi, meu nome é Cristina e eu tenho cinco anos; oi, tenho a idade do tempo, e virei sentimento, em uma língua falada por navegadores. Silêncio. Como só as manhãs possuem. Como só Saudade traz. E a minúscula sensação de ser uma só, na imensidão de todo um mundo. Imensidão tem tamanho? Qual o tamanho do mundo? Perguntei. O tamanho da sua própria vastidão. Sua, não dele. Do mundo. Respondeu Saudade.

Subi na cadeira próxima à janela, levantei os pezinhos, admirei esse não ter mais fim. Da Saudade. Do tempo. Do amanhecer em lilás. E não é que o céu acaba em uma curva? A Saudade. O tempo. O silêncio. O lilás. O redondo da Terra. A abóbada do céu. O que há por trás da curva? A praia, os avós, o colégio. E o que mais? Se você for lá olhar, precisarei segui-la por toda a vida. Sorri para ela. Consenti. Segura a minha mão? Preciso descer. Pedi. Pois não. Disse Saudade, estendendo-me a mão. E desde o caminho de volta ao meu quarto, Saudade e eu, nunca mais nos afastamos.

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