quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O Esqui

Esquiar já é um verbo estranho de se falar em português: eu esquio, tu esquias?! O tal do esqui vem da palavra ski, em inglês, veja só que diferença: S-K-I, começa com um S puxado, dá todo charme. Este soa lindo, autêntico e aventureiro. Para mim esquiar não combina nem com a língua portuguesa e nem com a mulher brasileira.

Encontro-me aqui num país que não é o meu, louca par fazer amigos, e, quem um dia já mudou de rua, bairro, cidade ou país vai entender o que é tentar se enturmar. Foi então, nessa missão de fazer parte da sociedade local que esbarrei no pequeno problema do ski. Isso porque, de repente, na minha visão reta, perpendicular e colateral todo mundo esquia. No hemisfério, é Dupete e não quadrúpete está esquiando, equiou, esquiará.

Quando chegou o inverno por aqui o “meu conversê” se limitou, não esperei dois convites, quem acha que a fase da auto-afirmação se restringe a adolescência está muito enganado doidinha para ser parte da turma numa idade já, supostamente, auto-afirmada, me mandei para Vermont com a galera.

Abri a porta do carro e experimentei os -15C, que achei suportável por exatos 1 minuto e meio. Corri para dentro do chalé, abri a mala e fui colocar minhas coisas em ordem, coloquei as calças jeans no cabide, separei as saias das blusas e as guardei em gavetas separadas. Claro que eu tinha uma saia e blusa para cada noite. Iria de couro se fossemos para a balada e de renda se fossemos apenas jantar um fondue que tanto esperava.

Dormi com meu moleton, acordei embrulhada no edredom que nem um “burrito”. Descemos para o café da manhã e reparei que todos usavam as roupas “fofudas” e coloridas, e eu, de jeans. Uma falha irreparável para quem quer se enturmar. A gargalhada se alastrou. O moço, gringo, lindo, meu príncipe, que também não se agüentou de rir, me pegou na mão, me cobriu com todas as suas roupas extras me levou as compras. Foi quando meu horizonte se abriu, é um tal de meia especial, camiseta especial por baixo da blusa especial, para depois colocar o casacão colorido com a calça colorida, e para as mãos: dia 1 luva térmica embaixo da luva de esqui; no dia 2: uma tal de “mitten”. Na hora do xixi, era como descascar cebola, camada por camada. Quando dei mais uma olhada geral na loja vi um objeto estranho e engraçado: o “TailSaver”. Era o que eu precisava! Agora vou explicar como funciona o tail safer: é uma prancha de borracha, com um buraco no formato do final da coluna, entenda-se cocxis. Com turma ou sem turma, medo mesmo ninguém esconde, mas consegui esconder o objeto no sob as roupas puffys, ainda que fosse tamanho G, porque o P tinha acabado, como disse, o medo é só meu e a dor também.

Pior para mim foram os pés, foi quando não neguei a raça brasileiríssima. Como colocar aquela geringonça da bota de esqui? E a minha briga para esticar o joelho com a tal da bota foi cansativa e a bota ganhou, claro. Foi um tal de tira e põe a bota até “marreca” aqui acostumar. Agora sim, prontinha.

Enfrento o “lift” para a primeira descida, a concentração era tanta que nenhuma palavra saía da minha boca, nem um gemidinho de frio, paralisada de concentração, são 3 minutos infindáveis na esteira que leva na descida das crianças. Pronta, cheguei no topo (um topinho), já comecei a gelar de dentro pra fora, queria mais era que tirassem uma foto minha lá, na neve, de esquis, para ter a prova de qualquer estória que eu fosse inventar depois. E minhas pernas começam a tremer, mas o joelho não estica, mas tremo mesmo assim. “E agora José?” O pensamento é único: vou cair. Pensei no“ tail safer” e fui confiante, desci a primeira rampa de crianças sem snow patrol, sem tremedeira mas ainda um pouco muda.

Agora, quem me dera que a galera aqui, inclusive o meu moço parceiro fosse fanático por futebol, ficasse assistindo o jogo pela TV e não me aporrinhasse com o tal do ssssskiiiiii. Senão das próximas vou ter que achar um “body safer” do dedão a cabeça, porque é tanto medo que nem sei se vale a pena, mas isso só confesso aqui no blog, na vida real eu falo EU AMEI ESQUIAR! E estou me enturmando.




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3 comentários:

  1. Muito bom, Fê! Faço minhas TODAS as suas palavras, rs... Não esquio (concordo que o verbo é estranho mesmo em portuga; a forçada de barra já começa por aí...), muito menos surfo na neves, e defendo a teoria de que ou você aprende essas coisas quando é destemido e tem 3 anos de idade ou esqueça!Mas, em pleno inverno na Confederação Helvética, não há muito o que fazer além de "exxxxquiar" ou "ixxxxnou bordar"... E assim, lá fui eu para a minha primeira lição de "ixxxnou bordi", mesmo deixando sempre claro que o meu esporte radical favorito é sereiar de frente para o mar... Tirando o fato de que: 1) eu não consegui nem a pau me pendurar naquele balancinho com aquela prancha, que escorrega por qualquer coisa, presa no meu pé; 2) não foi possível, por nada nesse mundo, "surfar" da direita para esquerda; e, 3) é totalmente impossível quando caio - o que acontece de 5 em 5 minutos - levantar sem ajuda, com aquela coisa dura e imóvel, novamente, presa no meu pé; eu até que dei umas descidinhas e até que achei divertido!
    No final, o bom mesmo foi ter aproveitado um dia lindo, num lugar lindo e ter tido como instrutor o gato, snow border "pro" do meu marido!;)
    Agora, uma perguntinha para a Juju, que aindã não deu o ar da sua graça por aqui: como, após todo o cansaço de uma jornada cheia de quedas e com a bunda cheia de hematomas, a pessoa busca energia para ir para a balada!? Isso eu nunca entendi, sigo sem entender e por isso sempre fugi dessas viagens de esqui...

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  2. Mas isso não é só um protetor de "tale", é um protetor para a toda a couna vertebral, rs... Eu desisti de "ixxxnou bordear" depois da segunda tentativa... O "ixxqui" que me aguarde agora... Ai, ai, cadê o verâo que não chega logo para que essa neve toda derreta!?!?!!?!?

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