quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Controle da Vida

Se a gente pudesse controlar a vida seria maravilhoso, maravilhosamente chato, entediante, como um rio parado que renega a natureza. No filme que assisti ontem, “ A river runs through it”, o escritor Norman Maclean conta a estória da sua família de forma interessante e profunda, de certo nenhuma bilheteria teria se não tivessem ocorridos na sua vida os fatos tão bem descritos pelo autor, sejam fatos alegres ou não, a vida muda e traz mudanças, a minha vida poderia ser um filme, e a sua também. O que é vivo mexe, move e remove, com ou sem licença para mover. Eu vou por inércia, por impulso ou pela expressão da vontade já raciocinada. Sinto uma força pontiaguda perfurando meu pé e percorrendo meu corpo me ligando entre o céu e a terra como um fio de aço, um fio que me arranca da imobilidade. Mas mudar nem sempre é prazeroso.

O conhecido é sereno e confortante, é delicioso saber o que encontrar na esquina ou na sala ao lado, é aconchegante falar oi para o atendente da padaria, que já sabe o café do jeito que você gosta, o que vem acompanhado do pão francês, que é tipicamente brasileiro, e só lá, no meu Brasil sabem o que significa pão na chapa e pingado. Adoro a minha cama, o meu bairro, e tudo mais que o pronome possessivo puder alcançar. Tudo é meu, mas não é! O meu, sou só EU e o que eu fizer de meu ao meu redor. Com o tempo percebi que o desejo de mudança fica aqui dentro e me inquieta, transborda, causa terremoto, não tem paciência, porque sabe que o lago parado é perigoso. Ao mesmo tempo que desejo me embebedar de serenidade e dormir na minha mesma cama, não quero cair na mesmice, no marasmo, então pulo, escolho outro caminho, sem saber o que esperar. É quando mais me sinto viva.

Nunca vou saber de ante mão se o caminho é certo, se é que existe certo e errado. Trocar de nacionalidade, língua, cultura, ruas, rostos, supermercado pode ser a igual a primeira mordida do bolo de chocolate ou uma colherada de pimenta com limão. Coube a mim decidir. O olhar para frente evita o choque da perda, porque na verdade nada foi perdido, nem o outro país, nem os amigos, nem as outras avenidas ou as lojas de bairro, tudo está lá, só houve uma expansão da sua bagagem, a bagagem da vida.

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